quinta-feira, 28 de abril de 2011

Copa, Olimpíadas e Direito à moradia

Por Thiago Ansel
Nesta terça-feira (26), a Relatoria Especial da ONU sobre o Direito à Moradia Adequada publicou um dossiê com denúncias de violações de direitos ocorridas nos desalojamentos e despejos provocados pelas obras de preparação da cidade do Rio de Janeiro para as Olimpíadas de 2016 e de sete outras cidades brasileiras onde acontecerão os jogos da Copa de 2014.

A relatora da ONU para Moradia Adequada, a urbanista Raquel Rolnik afirmou que em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Recife, Natal e Fortaleza, até agora não houve consulta, diálogo, negociação justa e participação das comunidades e famílias removidas nos processos de desapropriação e desalojamento.
De acordo com comunicado divulgado pela Relatoria, também na última terça, em todas as cidades onde se realizam as obras que antecedem os mega-eventos esportivos de 2014 e 2016 há um padrão de falta de transparência entre o poder público e as pessoas deslocadas pelas novas construções e reformas. 


A relatora da ONU, Raquel Rolnik: "Remoções podem acontecer, mas respeitando os direitos humanos das pessoas envolvidas".
A relatora da ONU, Raquel Rolnik: "Remoções podem acontecer, mas respeitando os direitos humanos das pessoas envolvidas".
“Essas remoções não têm acontecido de acordo com os padrões internacionais, estabelecidos pela ONU, para casos desse tipo. Remoções podem acontecer, entretanto, elas devem respeitar uma série de condições para que elas possam ser feitas, respeitando os direitos humanos das pessoas envolvidas. Isso não tem acontecido em grande parte dos casos”, declarou Rolnik à agência da ONU em São Paulo.

Violações de direitos

Os abusos cometidos pelo poder público durante os despejos vão de compensações insuficientes pelas remoções, passam pela recolocação das famílias em bairros distantes de seus locais de origem, e chegam a ameaças de não pagamento de indenizações e expulsão forçada de moradores pela PM (o que, segundo o dossiê da ONU, aconteceu em janeiro deste ano em Nova Sepetiba, Zona Oeste do Rio, onde pessoas das 700 famílias da ocupação teriam sido agredidas por policiais).

Localizada entre o Rio Centro e a Barra da Tijuca, área de crescente especulação imobiliária, a Vila Autódromo, vem resistindo às tentativas de remoção desde antes dos Jogos Pan-americanos do Rio (2007). Jane Nascimento, uma das lideranças comunitárias locais, diz que o poder público tem se utilizado de diferentes estratégias para que a Vila Autódromo seja destruída e seus moradores deslocados: “O Estado tem tentado desmobilizar os moradores, dando declarações públicas em que dizem que nós já aceitamos as remoções e todas as condições impostas por eles, quando a nossa reivindicação é por urbanização. Eles dizem que já está tudo certo, que tudo já foi negociado e que já tem até projetos para área. Essas coisas chegaram a aparecer até no diário oficial”, denuncia Jane.

A líder comunitária acusa a Prefeitura de criminalizar a população das comunidades, através do discurso de proteção do meio ambiente. “Estão destruindo casas de famílias pobres, que estão em locais valorizados e ainda nos acusam de prejudicar o meio ambiente”. Ora, os grandes condomínios não fazem mal ao meio ambiente? Então nós ficamos como os grandes criminosos. E quanto as grandes construtoras? ’, questiona. 

Outro expediente que vem sendo usado pelo poder público, para legitimar as remoções consiste em enfatizar que a maioria das desapropriações se dá em terrenos de posse. A defensora pública do Núcleo de Terras e Habitação do Rio de Janeiro, Adriana Britto, rebate este argumento, afirmando que, justamente por se tratarem de ocupações, essas comunidades são detentoras de direitos. “Na verdade, essas famílias têm de ter mais proteção ainda, visto que elas não puderam ter acesso a adquirir moradias através do mercado imobiliário formal. O que está em discussão não é propriedade e sim, um direito. É o direito a moradia que essas pessoas têm”, concluí Britto.

Direito à moradia

A defensora pública, Adriana Britto, ressalta que uma série de violações têm sido cometidas durante as remoções provocadas pelas obras da Copa e das Olimpíadas. Assim como a relatora da ONU pelo direito a moradia adequada, a defensora pública diz que não há diálogo entre Estado e os moradores. Em muitos casos, as pessoas não têm acesso a informações sobre o que vai acontecer, não havendo, portanto, discussão de alternativas.

De acordo com relatório assinado por comunidades e organizações da sociedade civil, enviado à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, no Rio, houve casos de demolições noturnas, sem tempo para retirada de pertences e sem a presença dos responsáveis pelos imóveis. Foi o que aconteceu na noite de 15 de Dezembro de 2010, na demolição de uma casa na comunidade Restinga (Recreio dos bandeirantes).


Demolição na comunidade Restinga (RJ) para as obras dos mega-eventos esportivos. FOTO: O GLOBO
Demolição na comunidade Restinga (RJ) para as obras dos mega-eventos esportivos. FOTO: O GLOBO
“O que aconteceu em alguns lugares foi que, devido a tamanha falta de diálogo com as autoridades, as pessoas não conseguiram negociar a sua saída. Muitas não tiveram nem tempo de retirar seus pertences. A Defensoria Pública tentou reverter a situação judicialmente, mas a Prefeitura se apressou em demolir o que podia antes que pudéssemos tomar as decisões cabíveis para evitar a remoção”, relata Britto. 

Para a defensora, a norma é que as remoções sejam excepcionais, ou seja, se há como realizar uma obra preservando as moradias das pessoas, isso deve ser feito. Portanto, tais medidas ferem, além do Estatuto das Cidades, a Constituição Federal que prevê uma série de garantias no âmbito do direito à moradia.


Moradores do Cristal exigem área do Jóquei para moradia popular


Fotos: Mariana Fontoura (CMPA)
Raquel Casiragui - GT Comunicação Comitê Popular Copa POA 

Cerca de 250 moradores do bairro participaram, na noite desta quarta-feira (27), da audiência pública da Câmara de Vereadores de Porto Alegre. A presidente da Câmara, vereadora Sofia Cavedon, aceitou a indicação da área do Jóquei para desapropriação para moradia de interesse social.

A comunidade do Cristal compareceu em peso no salão da Igreja Santa Teresa, na Vila Cruzeiro, não só para ouvir, mas para falar sobre as incertezas em relação à duplicação da avenida Tronco – principal obra da Copa de 2014 na região – e exigir respostas da prefeitura municipal sobre a situação das famílias que serão removidas para a realização da obra. Lideranças e moradores reclamaram que a prefeitura ainda não apresentou o projeto final de duplicação à comunidade, nem as áreas disponíveis e o cronograma para realocar as cerca de 1,8 mil famílias que terão que deixar suas casas. Preocupação que tem aumentado à medida que se aproxima o prazo divulgado para iniciar a obra, que é em Junho deste ano, mas está atrasado. “Não há transparência por parte do Poder Público”, reclamou José Araújo, morador e liderança local. 

Os participantes da audiência ressaltaram que as críticas da comunidade não devem ser interpretadas como sendo contra o progresso da região ou contra a Copa de 2014. “Queremos Copa sim, mas com moradia digna. As casas que têm aqui podem ser simples, mas são nossas. Cada ‘preguinho’ foi colocado com muito suor”, disse Marta, moradora local. 

Ronaldo Souza, morador do Morro Santa Teresa, comparou as obras da Copa como receber uma visita em casa. “Quem não tem o costume de limpar a casa todo dia, limpa para receber as visitas. E o que geralmente se faz? Joga-se a sujeira para debaixo do tapete. Não é isso o que queremos que aconteça aqui com a comunidade do Cristal”, afirmou. Irmã Conceição, da Casa de Nazaré, falou sobre a situação preocupante de famílias envolvidas no PISA (Programa Integrado Sócio-Ambiental) ao redor do Arroio Cavalhada, que haviam saído e estão voltando ao local por não ter onde morar.  

Outros moradores alertaram para a pressão que empresas, construtoras e demais interessados e envolvidos na especulação imobiliária fazem para retirar as comunidades pobres do Cristal (bairro que adquiriu alto valor no mercado nos últimos anos) e de outras regiões de Porto Alegre. “Estou muito preocupado com o que está sendo dito aqui, porque sempre tentaram tirar as nossas vilas do Cristal. E agora vão usar a Copa do Mundo para nos tirar daqui”, disse Felisberto. Waldir Bohn Gass, liderança local, lembrou que a especulação imobiliária irá continuar na região após o megaevento mundial de futebol. “A pressão da especulação imobiliária continua depois da Copa. Nós do Cristal podemos dizer ‘não’ a tudo isso”.

Área do Jóquei para moradia popular

Uma das principais reivindicações apresentadas pelos moradores na audiência pública foi destinar a área das cocheiras do Jóquei Clube à parte das famílias que terão que deixar suas casas para a duplicação da avenida Tronco. Em meados da década de 40, esta área havia sido doada pelo governo do Estado para que o jóquei se instalasse no bairro Cristal. 

No ano passado, a governadora Yeda Crusius conseguiu aprovar, por unanimidade na Assembleia Legislativa, um projeto de lei que permite ao Jóquei Clube dar outra função à área, sem precisar estar relacionada às suas atividades de hipódromo. Com essa lei, o Jóquei pôde fazer negócio com a área de quase 17 hectares das cocheiras, repassando à construtora Multiplan. 

O projeto da empresa é construir 18 prédios “espigões” para moradia de alta classe e outros 2 para escritórios, dando em troca para o jóquei, os dois edifícios comerciais e parte do aluguel. Todo esse empreendimento, num local com infraestrutura e com uma visão privilegiada do Rio Guaíba. “Uma área pública, que poderia ser destinada para moradia popular, regularizando a região e tirando famílias pobres de áreas de risco, foi dada de graça para a iniciativa privada construir casas de ricos. Assim como o governo do estado errou, queremos que isso seja desfeito, gravando a área como AEIS [Área Especial de Interesse Social]”, argumentou a arquiteta Cláudia Fávaro.

A arquiteta, que contribui no Comitê Popular da Copa do Cristal, ainda questionou os representantes da Câmara de Vereadores que, em novembro passado aprovou a alteração na Lei 636. A mudança abriu uma exceção para as obras da Copa ao permitir que famílias que terão que ser removidas sejam reassentadas em áreas fora da microrregião em que vivem. “Isso foi uma perda enorme para a população do Cristal”, lamentou.

Sobre a proposta apresentada pela Comissão de Habitação/SECOPA da Grande Cruzeirode destinar parte da área da FASE (Fundação de Atendimento Sócioeducativo) no Morro Santa Teresa para famílias da Tronco, Claudia não considera a melhor saída. Ela lembrou que boa parte da área é de preservação ambiental, portanto não pode ser habitada. Também argumentou que o morro já é densamente ocupado e que há muitas famílias vivendo em áreas de risco, que devem ser removidas para a área da FASE, permanecendo na mesma região. “Por que tem que colocar pobre em cima do morro? Queremos moradia digna. E a área do jóquei, junto com os terrenos a serem gravados perto da Tronco, resolvem a situação das famílias do Cristal”, defendeu.

E a prefeitura? Estudando...

Embora bastante atencioso na audiência pública e nas questões colocadas pelos moradores, o secretário adjunto da Secretaria de Gestão e Acompanhamento Estratégico, Roni Marques Corrêa, trouxe poucas respostas concretas para a comunidade. Sobre a apresentação das áreas para realocação das famílias e o cronograma, Roni disse que a prefeitura ainda está estudando e que até setembro devem ter os locais. Em relação à possibilidade de as famílias terem que ir para as precárias casas de passagem para que a obra possa iniciar logo, o representante da prefeitura afirmou que esta possibilidade não foi determinada pela prefeitura. Mas também não a refutou. Sobre a reclamação de lideranças de que o valor de R$ 40 mil para o bônus-moradia é muito baixo (na região do Cristal, segundo os moradores não se compra nenhuma casa por menos de R$ 80 mil), a prefeitura também está estudando.

Em relação ao projeto final do trajeto da duplicação da avenida Tronco, Roni afirmou que a prefeitura deve apresentar para os moradores entre 10 e 15 dias.

Comissão da Câmara se compromete com área do Jóquei

Ao final da audiência pública, a presidente da Câmara, vereadora Sofia Cavedon, comprometeu a Comissão Especial de Acompanhamento da Copa do Mundo às seguintes reivindicações dos moradores:
- desgravar a área prevista para a praça na avenida Tronco;
- aceitam a indicação da área do jóquei para desapropriação para moradia de interesse social;
- serão parceiros em abrir um movimento, junto ao governo estadual, para recuperar a área do jóquei;
- manter o diálogo com a população.

Ficou pré-agendada uma reunião com a comunidade do Cristal para a semana dos dias 09 a 13 de Maio, a fim de que a prefeitura apresente o projeto final do traçado da duplicação da Avenida Tronco.

Os segredos do PAC da Copa - A Arena e a lei 13.093 - Capítulo 4

Tania Jamardo Faillace, jornalista e delegada RP1

Audiência Pública no Humaitá
As espertezas da Arena do Grêmio, em cima de uma lei totalmente ilegal e inconstitucional, que bota no lixo o Direito Administrativo do Estado do Rio Grande do Sul, a lei 13.093, de 2008, elaborada pela ex-governadora e aprovada pela Assembléia, como já falamos, não ficaram por aí.

Foi realizada uma audiência pública no bairro Humaitá, em abril do ano passado, justamente no Ginásio da escola da Federação dos Círculos Operários, onde foi apresentado e lido o EIA-RIMA do projeto. Isto é, o Estudo de Impacto Ambiental e o Relatório do Meio Ambiente, trabalho realizado pela Profill Engenharia.

Árvores nativas. Foto: Eduíno Mattos
E pasmem: o relatório foi muito bem feito, correto e competente, apesar de encomendado pelo empreendedor. Suas conclusões: a Arena do Grêmio e o complexo previsto serão um desastre de grandes proporções para o bairro.

Algumas constatações:

1. Destruição do ambiente natural - das 500 árvores do local, 400 serão derrubadas, as espécies menores (arbustos, plantas rasteiras) serão eliminadas.

2. Intensificação da ocupação e impermeabilização do terreno - mais uns 20 mil ocupantes permanentes (moradores e trabalhadores no local - shoppings, supermercados, portarias, estacionamentos, etc.) e uns 70 mil em dias de jogos, sem falar de um enorme estacionamento asfaltado para alguns milhares de carros. Isso tudo vai sobrecarregar e saturar os serviços municipais de água, o fornecimento de energia elétrica, aumentar a produção de lixo local e, principalmente, vai provocar inundações em todo o bairro, que não conta com sistema de esgoto cloacal e não tem drenagem para água da chuva. Quer dizer, a cada chuva forte, haverá inundação do miolo do bairro, com água da chuva e esgotos cloacais misturados. Sem mencionar que o próprio bairro foi construído em cima de um lixão que ainda desprende gás.

3. O Humaitá é o bairro de ar mais poluído de toda a cidade, e onde mais se verificam doenças alérgicas e pulmonares em razão de estar localizado na Entrada da Cidade, e ter seu trânsito saturado. Imaginem o que acontecerá com mais milhares e dezenas de milhares de novos veículos, tanto em dias comuns, como multiplicados em dias de jogos. Teremos aí, além do aumento multiplicado da poluição aérea, também a paralisação do trânsito da zona Norte.

4. O Humaitá igualmente é reconhecido como o bairro de maior violência e insegurança na cidade de Porto Alegre. Essas circunstâncias tendem a agravar-se com a sobre-ocupação da área da Arena.

Alguns moradores acharam que algumas compensações em dinheiro ou obras, poderiam, talvez, compensar os desastres anunciados pelo super-projeto, a perda dos locais de lazer e o entupimento das vias de circulação.

Mas não foram informados de que todo o projeto se baseia numa lei ilegal e inconstitucional, e portanto, bastaria derrubá-la para que a área de 38 hectares voltasse ao domínio público.

Essa área foi doada pelo Estado à Federação dos Círculos Operários para fazer uma Escola Técnica Profissional. O Estado não pode fazer doações só porque quer, e quem recebe, o donatário, não pode fazer o que lhe der na cabeça com o terreno doado, mas deve obedecer aos itens do contrato. Se fizer coisa diferente, perde a doação, e deve fazer sua devolução ao Estado Assim, não pode passar essa doação adiante, seja de graça ou por venda. Para isso, há obrigações escritas de impenhorabilidade (não pode ser penhorada) e inalienabilidade (não pode ser vendida).

Por outro lado, como se trata de uma doação, o donatário não deve pagamento de qualquer tipo ao Estado. Se isso for pedido no contrato, não se trata mais de uma doação, mas de uma transação com valor econômico. E o  Estado não pode fazer transações sem licitação pública. Se isso acontecer, todo o contrato é NULO.

No caso da gleba de Humaitá, o Estado não podia pedir o terreno de volta, porque a Federação fez o que havia sido combinado. A Federação, claro, poderia devolver o terreno, sem direito a qualquer indenização. Se o terreno fosse devolvido por vontade da Federação, o Estado poderia ficar com ele para uso próprio, ou fazer uma licitação pública para dar outra destinação ao imóvel.

Isso não foi feito pela ex-governadora. Ela apenas transferiu as obrigações para um outro terreno, que não pertencia ao Estado nem ao donatário (Federação), situado na estrada Costa Gama 1009.

Sua idéia era que assim a área de Humaitá ficaria livre para a Federação vendê-la para a Construtora. Só que tudo isso é ilegal: a governadora não podia botar obrigações sobre um terreno de terceiros! Isso é um abuso contra o direito de propriedade.

Para fazer isso, ela teria antes que: a) desapropriar a área por razões de interesse público; b) confiscar a área em razão de débitos com o Estado, mas isso somente após a causa julgada; c) comprar a área.

Não fez nada disso, e o terreno da Costa Gama foi comprado pela Federação um ano e quatro meses depois dessa lei ser homologada! Quer dizer, essa transferência das obrigações é ilegal, e todas essas arbitrariedades são legalmente NULAS!

Desse modo, a área do Humaitá continua gravada, em poder da Federação, e não pode ter outro uso a não ser aquele determinado pela doação de 1963.

MAS... as ilegalidades não pararam aí.

Em dezembro de 2010, a Federação parcelou o terreno do Humaitá em quatro partes, o que não podia fazer, como já sabemos. Pior, vendeu duas dessas parcelas à Nova Humaitá Empreendimentos, enquanto outra continua gravada comimpenhorabilidade e inalienabilidade, e a quarta está livre. 

Veja abaixo, uma cópia da lei da dona Yeda, para vocês conferirem, se tiverem paciência.

LEI Nº 13.093, DE 18 DE DEZEMBRO DE 2008.
(publicada no DOE nº 247, de 19 de dezembro de 2008)
Introduz alterações na Lei nº 4.610, de 21 de novembro de 1963, alterada pela Lei nº 11.622, de 14 de maio de 2001, que autoriza o Poder Executivo a doar área de terras à Federação dos Círculos Operários do Rio Grande do Sul.

GOVERNADORA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL.
Faço saber, em cumprimento ao disposto no artigo 82, inciso IV, da Constituição do Estado, que a Assembléia Legislativa aprovou e eu sanciono e promulgo a Lei seguinte:
Art. 1º - Na Lei nº 4.610, de 21 de novembro de 1963, alterada pela Lei nº 11.622, de 14 de maio de 2001, ficam incluídos os arts. 7º e 8º e os arts. 2º, 3º, 4º, 5º e 6º, passam a ter a seguinte redação:
“Art. 2º - A donatária deverá construir e instalar uma Universidade do Trabalho, ou estabelecimento com a mesma finalidade, em área de terras, com superfície de 22 hectares, mais ou menos, fazendo frente à Estrada Costa Gama, antiga Estrada do Salso, com um bangalô de material nº 1.009 da dita Estrada, com suas dependências e benfeitorias entre as quais 4 construções de madeira, tendo as seguintes confrontações: frente à referida Estrada; de um lado com terras que são ou foram do Amparo Santa Cruz; pelo outro lado e nos fundos com terras que são ou foram do Major Fontoura, conforme registro às fls. 22, do Livro 3-T/1, sob o nº 26.641, do Registro de Imóveis da 2ª Zona da Comarca de Porto Alegre.

Art. 3º - A área descrita no art. 2º desta Lei fica gravada com as cláusulas de inalienabilidade e de impenhorabilidade, devendo ser transferida ao domínio e posse do Estado, sem que assista direito de indenização à donatária, caso não sejam observados os requisitos expressos nesta Lei.

Parágrafo único – Enquanto não implementada a transferência do domínio da área descrita no art. 2º desta Lei à donatária, os gravames previstos no “caput” deste artigo, recairão sobre a área descrita no art. 1º desta Lei, ficando automaticamente extintos com o devido registro da área descrita n art. 2º desta Lei em nome da donatária.

Art. 4º - O donatário deverá entregar ao doador, exclusivamente às suas expensas:

I - um prédio escolar, novo e nos padrões a serem definidos pela Administração Estadual, em terreno de propriedade do Estado do Rio Grande do Sul, por este indicado, com idênticas dimensões do prédio atual da Escola Estadual Oswaldo Vergara;
II - oito salas de aula e demais dependências, em substituição aos dois prédios de madeira, que deverão ser demolidos, existentes junto ao Colégio Estadual Carlos Fagundes de Mello; e
III - realizar a ampliação de duas salas de aula no atual prédio da Escola Estadual Danilo Antônio Zaffari, todos no Município de Porto Alegre.

Art. 5º - Enquanto não cumprida a obrigação prevista no art. 4º, fica onerada com os gravames previstos no art. 2º a seguinte fração de terra que faz parte do todo maior previsto no art. 1º desta Lei, contando com 20.704,952m² e com o seguinte perímetro: partindo do vértice A, situado no limite da Av. Padre Leopoldo Brentano com a Federação dos Círculos Operários do Rio Grande do Sul, referida ao norte magnético, deste confrontando neste trecho com a referida avenida, no quadrante sudoeste, seguindo uma distância de 71,651m e azimute plano de 277º06’24” chega-se ao vértice B, deste confrontando neste trecho com a referida avenida, no quadrante sudoeste, seguindo com a distância de 3,048m e azimute plano de 297º29’20” chega-se ao vértice C, deste confrontando neste trecho com a referida avenida, no quadrante Sudoeste, seguindo com distância de 54,431m e azimute plano de 278º12’26” chega-se ao vértice D, deste confrontando neste trecho com a referida avenida, no quadrante Sudoeste, seguindo com distância de 334,971m e azimute plano de 277º17’50” chega-se ao vértice E, deste confrontando neste trecho com terras da Federação dos Círculos Operários do Rio Grande do Sul, no quadrante sudoeste, seguindo com distância de 99,424m e azimute plano de 347º53’43” chega-se ao vértice F, deste confrontando neste trecho com terras da Federação dos Círculos Operários do Rio Grande do Sul, no quadrante noroeste, seguindo com distância de 2,729m e azimute plano de 46º00’29” chega-se ao vértice G, deste confrontando neste trecho com terras da Federação dos Círculos Operários do Rio Grande do Sul, no quadrante noroeste, seguindo com distância de 82,161m e azimute plano de 88º43’34” chega-se ao vértice H, deste confrontando neste trecho com terras da Federação dos Círculos Operários do Rio Grande do Sul, no quadrante nordeste, seguindo com distância de 51,139m e azimute plano de 91º10’34” chega-se ao vértice I, deste confrontando neste trecho com terras da Federação dos Círculos Operários do Rio Grande do Sul, no quadrante nordeste, seguindo com distância de 67,712m e azimute plano de 98º14’58” chega-se ao vértice J, deste confrontando neste trecho com terras da Federação dos Círculos Operários do Rio Grande do Sul, no quadrante nordeste, seguindo com distância de 9,705m e azimute plano de 142º38’37” chega-se ao vértice K, deste confrontando neste trecho com terras da Federação dos Círculos Operários do Rio Grande do Sul, no quadrante sudeste, seguindo com distância de 19,550m e azimute plano de 182º16’00” chega-se ao vértice L, deste confrontando neste trecho com terras da Federação dos Círculos Operários do Rio Grande do Sul, no quadrante sudeste, seguindo com distância de 88,752m e azimute plano de 195º47’08” chega-se ao vértice A, ponto inicial da descrição deste perímetro.

Art. 6º - Cumprida a obrigação prevista no art. 4º, fica automaticamente extinta a oneração prevista no art. 5º.

Art. 7º - Doador e donatário estabelecerão medidas compensatórias das diferenças de avaliação das áreas, inclusive pelo cumprimento das obrigações previstas no art. 4º, prestação de serviços sociais e comunitários, execução de obras e equipamentos públicos e pela projeção de acréscimo da arrecadação tributária estadual decorrente da implantação de projetos ou empreendimentos na área referida no art. 1º, ou eventual torna de valor.

Parágrafo único – A não efetivação de termo de compromisso firmado entre doador e donatário, no prazo, de 90 (noventa) dias, com o estabelecimento das medidas compensatórias indicadas no “caput”, determinará o recaimento dos gravames previstos no art. 3º sobre a área descrita no art. 1º.

Art. 8º - As despesas com escritura e registro de imóveis correrão à conta do donatário.
Art. 9º - Revogam-se as disposições em contrário.”

Art. 2º - A área descrita no art. 1º da Lei nº 4.610/1963, e alteração, deverá ser destinada, no todo ou em parte, à construção do complexo esportivo Arena do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense.

Art. 3º - A Assembléia Legislativa deverá ser informada dos valores de avaliação das áreas previstas nesta Lei, bem como da compensação que for realizada.
Art. 4º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
PALÁCIO PIRATINI, em Porto Alegre, 18 de dezembro de 2008.
FIM DO DOCUMENTO

Vila do Chocolatão: Direito ao Direito de escolha

Lara Bitencourt, Associação de Geógrafos Brasileiros - Coletivo de Apoio a Reforma Urbana, em colaboração de Thiago Nunes, Serviço de Assessoria Jurídica universitária – Grupo de Assessoria a Justiça Popular

Há aproximadamente 25 anos, no centro da cidade de Porto Alegre, por entre os prédios da administração do município, é possível de se ver o crescimento e a transformação da comunidade que ali está instalada, e que de lá há previsão de ser retirada em função das revitalizações trazidas pela Copa de 2014 na cidade. 

A comunidade chama-se Vila do Chocolatão, e traz estampada em suas casas e becos, assim como nas suas gentes, a marca da desigualdade (re)produzida pelo sistema capitalista vigente na maioria das grandes cidades do globo, sendo chocante a falta de recursos e direitos dos homens e mulheres que nela vivem, e mais espantosa ainda a falta de iniciativa do Estado em garantir instalações minimamente salubres para os que ali habitam.

Entre ameaças de despejos e retiradas forçadas da comunidade dali, eis que no ano de 2009 a prefeitura de Porto Alegre aprova um Projeto de Trabalho Técnico Social, que prevê a realocação da comunidade da Vila Chocolatão, da Av. Loureiro da Silva – n° 555 – bairro centro, para a região nordeste da cidade, no bairro Mario Quintana – Av. Protásio Alves – n° 9099. O projeto passa a ser veiculado como modelo de atuação em caso de reassentamentos, tendo em vista que reuni, pela primeira vez, em uma dessas ações os poderes municipal e federal trabalham em união, assim como a esfera privada se faz presente na efetivação desse projeto, que visa trabalhar de modo horizontal na realização do reassentamento.

Aos olhos dos mais desatentos, assim como em uma visão superficial da situação, pode-se dizer que o projeto é interessante, e a ação sincera. Contudo, o quanto disso é realmente verdade, e mais o quanto é, ou não arbitrário? Já pensou se algum dia você está em sua casa, fazendo alguma coisa do seu interesse, ou só vivendo a sua vida cotidiana, quando tocam o interfone ou a campainha, e ao atender você é comunicado de que o condomínio onde você mora, será realocado dentro de alguns meses para uma área 12Km distante do lugar onde se encontra atualmente, e mais, nem todos os seus vizinhos serão removidos para nova área, só alguns deles. 
Não bastasse isso, a garantia de vagas nas escolas nesse novo local é quase nula, tendo em vista que a densidade demográfica dessa nova área é 10 vezes superior à que se encontra o seu condomínio, o sustento previsto nesse comunicado virá através de uma associação criada entre os vizinhos e alocada em um galpão de zinco dentro desse novo condomínio; e a associação de trabalhadores será totalmente dependente da prefeitura para conseguir material para realizar o trabalho, assim como, esse trabalho não pretende – e nem tem condições - de atender a todos os moradores do seu prédio que serão removidos. Você já pensou sobre isso algum dia? Pois é assim que as coisas estão se dando hoje na Vila Chocolatão - e quem abre os olhos para isso? E além, quem faz alguma coisa para que isso não aconteça? 

Nos últimos dois anos, não é difícil de se encontrar, caminhando por entre a vila, alguns estudantes de direito ou de geografia, conversando ou jogando bola com os moradores da vila, assim como fazendo reuniões e assembleias, além de apoiar e incentivar as Associações de Moradores e Catadores da comunidade, tudo buscando ser feito da forma mais horizontal possível, não visando um trabalho para a comunidade, mas sim junto da comunidade, tentando com os moradores garantir junto a órgãos como o Ministério Público Federal e Ministério Público Estadual a dignidade e justiça aos indivíduos da Chocolatão no reassentamento que se aproxima, assim como auxiliando uma possível resistência dos que ali estão há mais tempo e possuem o direito de seguir habitando o lugar.

Contudo, por mais ações e intervenções que se façam dentro e fora da vila, através do empoderamento dos moradores, e da troca de vivências entre os grupo de apoio e a comunidade, ainda assim não é possível assegurar que os diretos básicos já conquistados pela comunidade hoje, onde está, serão mantidos na nova área de moradia, como educação, saúde e trabalho - já que a bagunça e a burocracia em que se encontra o Estado, junto a essa demanda, impossibilita a circulação de informações transparentes, sinceras e confiáveis do processo na sua totalidade.

Por fim, fico me perguntando por que só acontece uma mobilização em massa na cidade, quando os interesses puramente individuais das pessoas são atingidos, e essas mesmas pessoas, ficam assistindo inertes e apáticas, à violação de direitos fundamentais de outros cidadãos, quando essa situação não lhes traz, ao menos diretamente, qualquer prejuízo.

Apos quatro anos de conquista , ainda ha muito o que fazer no PAC da Nova Santa Marta

Na manhã do dia 27 de abril de 2007, centenas de familias caminharam pelas ruas da Nova Santa Marta e apos realizarem protesto no escritorio da cohab-rs decidiram boquear o trevo da br 287 na entrada da Cohab Sta Marta , para exigir das autoriades municipais estaduais e federais a inclusão de da Nova Santa Marta no Programa de aceleração do crescimento O PAC, na epoca ja sabiamos que se não fossemos incluidos naquele momento provavelmente não haveria outro momento para conquistar uma demanda do tamanho da nossa afinal de contas era a infrestrutura o saneamento basico a produção de moradias de uma ocupação com 5 mil familias (maior que muita cidade). Com muita organização conquistamos, passo a passo com luta e pressão permamente nos governos, os 42 milhões nescessarios para as obras (hoje reajustado para 50 )
Foram meses de mobilização e mesmo apos o governo federal ter disponibilizado os recursos a titulo de emprestimo do FGTS dentro do programa pro-moradia, ainda foi necessario muita mobilização para definir se o Municipio ou o Estado assumiriam o emprestimo. E mesmo depois do Prefeito Valdeci ter aceitado receber os recurso,ainda demorou meses ate a governadora realizar a doação da area para termos garantia plena do inicio e conclução das obras.
Algumas fotos do dia 27 de abril e 2007






E AGORA PASSADO 4 ANOS .
A situação esta preocupante as obras realizadas de infra estrutura e saneamento realizadas ate aqui apresentam diversos problemas, desde problemas na rede de esgotos, na drenagem das aguas da chuva, na pavimentação e nas redes de distribuição de agua, entre outros tantos.
Quem anda hoje pelas ruas percebe a falta de cuidado na realização das obras o desleixo da Administração com obras desta envergadura, pois além de não executar as obras com qualidae ainda não consegue minimamente realizar a manutenção da infraestrutura destas areas.
Além disso a prefeitura ainda não inicou a intervenção na areas de risco nem o trabalho social com as familias , assim como não iniciou a construção das casas para os reassentamentos.

O Trabalho tecnico social, que é um conjunto de medidas que visam promover o desenvolvimento economico e social da comunidade , não sai do Papel , as reuniões realizadas na comunidade para discutir o assunto são na sua absoluta maioria organizada pelas entidades comissão de regularização fundiaria da Nova Santa Marta
A regulariação do lotes , ATE AGORA É UMA PROMESSA, o coletivo do MNLM que esta tratando da Produção de casas pelo Minha casa Minha vida já perdeu a conta da quantidade de promessas - a ultima é que sera publicado o edital para contratação de empresa para estes serviços no maximo ate sexta feira (29/04)- e nos estamos contando s horas e não aceitaremos mais desculpas .

De qualquer forma estamos vivendo uma grande transformação construida de maneira coletiva por todas as lideranças da comunidade da Nova Santa Marta , por todas as entidades realmente comprometidas com a luta do Povo. Parabéns a todos nossa historia mostra que a luta vale a pena .
Reforma Urbana já.

Casas no Rio abrem caminho para a Copa do Mundo

Vídeo publicado no Guardian em 25 de abril.
http://reformaurbanars.blogspot.com/2011/04/casas-no-rio-abrem-caminho-para-copa-do.html

Copa do Mundo é tema de audiência pública no Cristal

Nesta quarta-feira, 27, a Secretaria Municipal de Gestão e Acompanhamento Estratégico (SMGAE) participou de audiência pública promovida pela Câmara Municipal. O evento foi realizado na Igreja Santa Teresa, bairro Cristal. Durante o encontro com a comunidade, foram debatidos os impactos que as obras da Copa do Mundo 2014 irão gerar na região.  

O secretário-adjunto de Gestão e Acompanhamento Estratégico, Roni Marques Correa, representou a prefeitura e explicou que as obras na localidade estão previstas no Plano Diretor desde 1958. Conforme Roni, a realização do evento esportivo será uma grande oportunidade para que essas obras sejam executadas com recursos do Governo Federal. 

“O Demhab iniciou o levantamento sócio-econômico dos moradores da região. Esse trabalho é fundamental para sabermos realmente o perfil e quantas famílias encontram-se no leito da avenida. A comunidade tem participado constantemente da elaboração do Projeto”, esclareceu Correa.   


Guias produzidos pela Relatoria Especial da ONU para moradia adequada.





quarta-feira, 27 de abril de 2011

CONVITE: JANTA E FESTA SOLIDARIEDADE OCUPAÇÃO 20 DE NOVEMBRO


CONVITE:


As famílias da ocupação 20 de Novembro convidam para uma janta em referência aos 4 anos da operação de guerra armada pela governadora Yeda para realizar seu despejo do prédio no centro de Porto Alegre. 
Há 4 anos as famílias encontram-se assentadas precariamente em área pública ao lado do Sport Club Internacional e com esforço coletivo restaurtaram o imóvel (antes abandonado pela prefeitura) e fundaram a Cooperativa 20 de Novembro.
Para viabilizar as obras para a Copa de 2014 a prefeitura doou para o Internacional a àrea em que as famílias estão residindo. As obras já cercam as casa, mas até o momento a prefeitura não apresentou proposta de reassentamento.

Neste sentido, o MNLM convida a todos os parceiros e amigos a se solidarizar com as famílias na ocupação 20 de Novembro e se somar a luta pela "Reforma Urbana", "Por Moradia Popular no Centro" e  " Trabalho Solidário e Geração de Renda"!

DATA: 29/04
HORÁRIO: Apartir das 20h
LOCAL: Av. Padre Cacique, 1345


OCUPAR, RESISTIR PRA MORAR E CONTRUIR UMA NOVA SOCIEDADE!!!

CONHEÇA MAIS, ACESSE O BLOG:

http://ocupacao20denovembro.blogspot.com/


JANTA E FESTA EM SOLIDARIEDADE AS FAMÍLIAS DA OCUPAÇÃO 20 DE NOVEMBRO

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