sábado, 12 de fevereiro de 2011

Famílias dormem ao relento

Na nova ocupação do Motu apenas 280 famílias resistiram a luta pela moradia
22/01/2011 - 10:42

Ocupantes começam a erguer novos barracos (Fotos: Portal Infonet)

Um novo local de ocupação e os velhos problemas de falta de estrutura para as famílias integrantes do Movimento Organizado dos Trabalhadores Urbanos (Motu) que desde o início do mês ocupam terrenos em Nossa Senhora do Socorro. Depois de terem sido retirados de uma área por força de uma liminar, agora as pessoas estão em um terreno que supostamente é particular. O terreno localizado em uma área industrial do município de Socorro fica nas margens de uma estrada de terra, com pouco movimento de veículos.

Aos 60 anos, Ana Maria dos Santos, é o retrato do abandono. Morando com um neto de apenas 10 anos, sem familiares para prover o sustento, a idosa diz que antes da ocupação estava morando em uma pequena casa alugada pagando R$200. Ana Maria relata ainda que para sobreviver e conseguir pagar o aluguel 
Aos 60 anos, Ana Maria fala da falta de esperança na política
costumava pedir alimentos e mendigar pelas ruas. Para a idosa a ocupação do terreno abriu a esperança de moradia.

“Será que as pessoas não vêem que só quem ficou aqui foram as pessoas que não têm casa. Nós estamos vivendo aqui como bichos, dentro do mato. Queremos moradia porque sou uma pessoa doente, tenho diabetes, sofro com problemas no pulmão e cansaço”, conta a idosa que se desespera ao demonstrar total descrédito na política.
“Só posso dizer uma coisa, depois dessa expulsão não vou mais votar em nenhum político; meu voto será em branco. Acho que todo brasileiro tem que pensar que os políticos usam a gente como escada e quando já estão em cima não fazem nada pelo povo”, analisa.
A pouca comida que chega no ocupação é fruto de doações  

O desempregado Kissiney Alisson Soares de Jesus está no acampamento acompanhando da esposa grávida de dois. Para Kissiney a ocupação renova a esperança das pessoas que precisam de moradia. “A ocupação que teve 1600 famílias agora conta apenas com 280. Isso mostra que só sobrevive quem realmente precisa, pois a nossa luta é muito grande. Imagine você passar a viver em conjunto com pessoas que nunca viu, tendo que passar a se ajudar e dividir o pouco que tem”, conta.

Falta de energia, água potável, sem banheiro e com alimentação escassa. Esses são alguns dos problemas enfrentados pelos ocupantes. “Às vezes é preciso ter muita paciência e saber entender o outro que fica desesperado com a situação. Essa semana tive um desentendimento por conta de uma laranja. Naquele momento pensei que a situação estava difícil para todos”, menciona Kissiney, que 
Somente 280 famílias resistem a ocupação
pede doações para as famílias. "Precisamos de alimentos, cobertores e água potável, quem desejar ajudar pode trazer as doações".   

A vendedora Edilma dos Santos aponta outro problema enfrentado pelos ocupantes. “Somos muito discriminados, muitas vezes as pessoas pensam que estamos aqui, mas temos casas. Só que quem tem casa não agüenta uma situação como essa não. Aqui é dureza, é tudo muito difícil”, diz.
Prefeitura
Na última quarta-feira, 19, o prefeito de Nossa Senhora do Socorro, Fábio Henrique, se reuniu na sede da prefeitura, com representantes do Motu. Na ocasião, os dirigentes entregaram ao prefeito a relação das famílias que ainda resistem no local. De posse da lista, a prefeitura fará uma análise social das famílias a fim de evitar que aproveitadores sejam beneficiados com possíveis moradias. “Recebemos uma relação com os nomes de pessoas que ainda ocupam a área e com essa relação vamos conflitar com o Cadastro Único do governo federal (Cad), para depois incluir no Cadastro Único do município”, disse Fábio Henrique.
Por Kátia Susanna

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