sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Eles só querem uma casa


Moradores de ocupação em área particular no Jardim Cristina vão à prefeitura para manifestar direito de ficar em suas casas; enquanto reintegração de posse está suspensa, líderes querem negociar compra de terreno

Derla Cardoso / Santo André

Agência BOM DIA 

Cerca de 100 pessoas do bairro Santa Cristina, em Santo André, fizeram uma manifestação na tarde desta quinta-feira em frente à prefeitura da cidade. 

Com exceção de mulheres grávidas e crianças, o restante dos munícipes foram a pé do bairro até o centro. O motivo do protesto foi um ofício com ordem de reintegração de posse que os moradores receberam na segunda-feira, mas que está suspenso. 

Cinco membros da liderança se reuniram com os secretários de Desenvolvimento Urbano e Habitação, Frederico Muraro Filho, de Assuntos Jurídicos, Niljanil Bueno Brasil, e de Inclusão Social, Antonio Francisco Silva e com o superintendente da Empresa Municipal de Habitação Popular de Santo André, Omar Lopes dos Santos, para tentar negociar uma solução para o problema. 

No dia 7 de outubro de 2010 pelo menos 120 famílias ocuparam uma área particular de 37 mil metros quadrados no Santa Cristina. Segundo o secretário, no local seriam construídos prédios populares do projeto Minha Casa Minha Vida, mas a ocupação inviabilizou a obra. 

Após o término da reunião a representante dos moradores, Maria das Dores Cerqueira, de 40 anos, disse que o proprietário, que foi indicado como Ricardo Harada, teria interesse de negociar o terreno com os sem-teto. 

“Vamos ter uma reunião com o advogado do proprietário para tentar comprar o terreno via Minha Casa Minha Vida”, explicou a militante que faz parte da coordenação estadual do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).

A líder disse também que não tem ideia de quanto os moradores poderiam vir a pagar pela terra. “Não sabemos, pois as famílias que moram no local ganham de zero a três salários mínimos”, explicou. A administração informou que um projeto do Minha casa Minha Vida atenderia famílias com a renda citada pela líder e outras na faixa de três à dez salários.

De acordo com o secretário, a prefeitura vai intermediar a negociação entre o proprietário e os moradores. “Estamos aqui como agentes facilitadores de um diálogo, para que se encontre uma boa solução para ambas as partes”, afirmou Muraro. 

Nesta sexta, os representantes da ocupação se reunirão com o advogado do proprietário para negociar. O BOM DIA tentou localizar o proprietário do terreno e seu advogado, indicado pelo nome de Júlio, mas até o fechamento desta edição não obteve sucesso.

VISITA / O secretário da Habitação do Estado e presidente da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano), Silvio Torres, vai se reunir hoje com prefeitos de Diadema e Santo André para falar sobre famílias que vivem em áreas de risco.

O chefe da pasta irá às 10h na prefeitura andreense para conversar com prefeito Aidan Ravin sobre as famílias do Jardim Santo André. Ao meio-dia, o secretário vai se reunir com o prefeito de Diadema, Mário Reali, para conversar sobre a situação de famílias que vivem em áreas de extremo risco na faixa de domínio da Ecovias, concessionária que administra o sistema Anchieta/Imigrantes.

Nordestina busca melhoria de vida na cidade

A agricultora Maria de Lourdes Valdevino de Moraes, de 58 anos, veio do Pernambuco com a neta Bruna Daniela, de 17, para morar Santo André. “Aqui a vida é ruim, mas lá é pior ainda. Aqui pelo menos chove.” Dona Maria veio com a neta e a bisneta participar da manifestação. Como estavam com uma criança, vieram na van que trouxe também as mulheres grávidas.

Antes de viver na ocupação, a pernambucana morava de aluguel na Favela do Amor, perto do local. “Morávamos em outro barraquinho que estava caindo.” Após um mês de início da ocupação, a moradora se mudou para lá. 

“Moro em dois cômodos de madeira, mas não quero sair. Se eles me tirarem se lá terei que ir para debaixo da ponte. Quero ficar mesmo que seja nos barracos”, contou. Como não pode exercer sua profissão na cidade, dona Maria vive com uma cesta básica que a Igreja Presbiteriana lhe dá. 

“Tenho dois filhos no Pernambuco que também mandam alguma coisinha quando podem porque lá também está difícil”. 

A neta Bruna mora num barraco feito de madeira com dois cômodos próximo ao da avó e disse que também não quer sair. “Gosto de lá, pois é um lugar simples”, contou a mãe de Gabriela, de dois meses. A adolescente é casada com Jovenildo Alves da Silva, de 28 anos, que atualmente faz bicos para manter a casa. “No momento, dá para comer só o básico.”

Moradora diz que gostaria apenas de uma casa com banheiro

Dentre os moradores do Jardim Cristina que gritavam durante a manifestação em frente à prefeitura estava Fernanda Gonzales da Dona, de 19 anos. 

Ao lado do marido Rodrigo Ferreira, de 21 anos e do filho Matheus, de 4 anos, protestava e segurava placa com reivindicações para o prefeito. Antes de se mudar para a ocupação, a família morava de aluguel. 

“Pagávamos R$ 150 por mês, mas tivemos que sair porque meu marido foi demitido do cemitério Curuçá, onde trabalhava de coveiro.” Ao ser perguntada sobre como gostaria que fosse sua casa, ela não tem dúvidas. “´Pelo menos com um teto e um banheiro. Não precisa ter luxo.”

Família veio se manifestar em busca de um lar

O ajudante de pedreiro Robson Alves de Melo, de 24 anos, trouxe a família para protestar por moradia na frente da prefeitura. O morador mudou-se para a ocupação há três meses. 

“Morávamos de aluguel por R$ 250 por mês. O dono da casa colocou a gente para fora porque atrasei dois meses de aluguel.”, conta Melo.

O morador contou que comprou R$ 100 de madeirite e pegou um empréstimo para comprar o restante do material que faltou para terminar de construir o barraco.

“Precisamos pagar R$ 500 para o tio dele até o final do ano”, explicou a esposa Valdirene dos Santos, de 18 anos. 

Ao lado do filho Robert, de 1 ano e 1 mês, a moradora disse que aceitaria um auxílio-aluguel da prefeitura para sair do local. “O chão é de cimento, mas lá chove e molha tudo. Queremos uma moradia digna.”

Doméstica e mais 6 pessoas vivem em um mesmo barraco

Ana Carolina dos Santos, de 20 anos, veio com a filha Amanda, de 17 dias, protestar. A moradora mora em um cômodo de madeira, com a mãe, quatro irmãos e dois filhos. Na casa, a mãe é a única que trabalha como doméstica para sustentar a família. 

“Queremos que o dono do terreno deixe a gente ficar lá. Nós queremos pagar pelo terreno. Ninguém quer nada de graça.”

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