Quando observarmos as notícias sobre a duplicação da Av. Tronco percebemos que a questão habitacional não aparece como algo relevante. Não só a questão da habitação não é relevante como parece que a população também não é. Afinal, segundo matéria publicada no jornal Zero Hora, é “...O projeto de duplicação da Avenida Tronco, fundamental para o deslocamento de veículos em direção à Zona Sul durante os jogos da Copa...”. (Zero Hora, 21/02/2011).
O protagonismo está na obra de duplicação especificamente para a Copa 2014. As famílias que vivem ali somente são citadas porque se transformaram em estorvo para a obra: “...obstáculo é a parte das desapropriações, uma vez que centenas de casas surgiram na área que desde 1959 estava reservada no Plano Diretor para a obra.” . Ora, as casas e moradores não brotam do nada como sugere a citação anterior. Mas a frase serve como um indicativo da forma como uma parte da sociedade pensa esta questão.
Não se trata de quem chegou antes, se foi o projeto para a obra ou as pessoas, mas que a obra deveria justamente atender a população local. Os moradores levaram anos aguardando a duplicação e agora se tornaram um transtorno para o poder público. O que piora a situação é a insegurança, a vulnerabilidade a que são expostos pela falta de transparência. Nem a própria Comissão de Habitação/SECOPA da Região da Grande Cruzeiro conhece o plano da Prefeitura para a área, tanto que apresentou ao Prefeito lista de propostas e reivindicações somente no dia 14 de fevereiro de 2011. O que é de se estranhar. Afinal, se é uma comissão de habitação deveria ser a primeira puxar da gaveta o Plano Municipal de Habitação de Interesse Social.
Vale lembrar que uma das etapas da elaboração deste plano consistiu na realização de oficinas regionais com a participação das comunidades e lideranças. No entanto, neste momento, não se vê nenhuma referência que resgate as discussões realizadas nas oficinas para a Região da Grande Cruzeiro.
Se este plano não existe somente com a finalidade de captar recursos junto aos órgãos financiadores, deve ser retomado agora, para discutir com a população sobre ações concretas pautadas na política habitacional de Porto Alegre e não pontual e circunstancialmente sobre o projeto de duplicação de uma avenida. Está em pauta o futuro de milhares de pessoas, o que não pode ser incluído no balcão de negócios que é a Copa.
Lucimar Fátima Siqueira - Geógrafa
ONG Cidade - Centro de Assessoria e Estudos Urbanos.
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