domingo, 14 de novembro de 2010

Porto Alegre - Mais uma maracutaia do Governo Yeda


O problema não é descentralizar a Fase. Apesar de se tratar de menores – de crianças e adolescentes infratores –, segue princípio semelhante ao dos presídios. É muito mais inteligente manter várias unidades pequenas do que uma grande, mais explosiva e com muito mais tendência a dar problemas. O tratamento aos menores é mais individualizado, o respeito tende a ser maior. O problema, no caso, é a forma de descentralizar. Tem que fazer do jeito certo. Que seja ético, inteligente, honesto e com resultados. Não é o que o governo do Rio Grande do Sul pretende fazer. Hoje, seis sedes da Fundação de Atendimento Sócio-Educativo ficam em um terreno no Menino Deus, praticamente na frente do Beira-Rio (onde também vão crescer prédios gigantes), na avenida Padre Cacique, 1372. É uma área nobre, enorme (740 mil metros quadrados), extremamente valorizada. Imagina o lobby das construtoras. Ali se poderia fazer um empreendimento gigantesco beneficiando os donos de construtoras, o governo através de suas propinas e uma pequena parcela da elite. Por isso, interessa. Não apenas ao governo, mas à mídia, que também leva seu quinhão – ou alguém aqui se esquece que os Sirotsky também atuam nesse ramo? O plano, pois, é desmantelar a Fase, sem planejamento nenhum, para lucrar em cima do terreno o mais depressa possível. Dessa forma, não se resolve o problema dos menores, já vítimas do sistema desde que nasceram até hoje, quando são apontados justamente como algozes do mesmo sistema que nunca lhes deu nada a não ser porrada, na maioria dos casos. Dessa forma, não se resolve também o problema da cidade, que perde dinheiro, privatiza o espaço. A ideia do governo é fazer uma permuta. Trocar o terreno por nove outros menores, usando a descentralização da Fase como argumento, mas entregando um bem de valor altíssimo pra iniciativa privada. O RS Urgente informa: o terreno da Padre Cacique que abriga a Fase hoje está avaliado em R$ 160 milhões. Os outros nove, todos juntos, somam R$ 70 milhões, ou seja, menos da metade. Queria eu ter alguém bonzinho assim pra fazer um negócio desses comigo.E tem um outro aspecto pouco comentado nessa história. E é pouco comentado justamente porque não interessa ao governo, que deliberadamente não divulga as informações de que dispõe a respeito. O terreno tem um elevado valor ambiental também. Não tenho acesso aos dados porque eles não aparecem, simples assim. Mas eles existem, e não aparecem justamente porque a pressão social sobre o governo seria muito mais forte. O movimento ambiental é bastante organizado, e conseguiu chamar a atenção no caso do Pontal do Estaleiro, por exemplo. Tudo bem, não tem a força do aparelho do Estado, dos partidos políticos e das construtoras, o que impede de discutir de igual pra igual. Mas pra que ter mais esse incômodo se é mais fácil fazer toda a negociação por baixo dos panos? Para quem quiser se manter informado a respeito, o Projeto de Lei 388, de autoria do governo, trata do assunto.

Autora: Cris Rodrigues

Fonte: http://somosandando.wordpress.com/

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