Helena Martins - Jornalista e integrante do Comitê Popular da Copa
mb.helena@gmail.comFortaleza tem tudo isso para poucos. Tanto que é uma das 20 cidades mais desiguais do mundo; entre as brasileiras, figura entre as quatro, segundo o relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), Estado das Cidades do Mundo 2010/2011: Unindo o Urbano Dividido, que aponta como uma das causas dessa desigualdade a pressão de grupos de interesses privados na destinação dos recursos públicos. O mesmo problema tem ocorrido na definição das obras da Copa. Embora a cidade possua um déficit habitacional superior a 75 mil domicílios, serão investidos mais de R$ 560 milhões em obras de duplicação de vias e construção de um Veículo Leve sobre Trilhos - equipamento que, seguindo recomendações da Federação Internacional de Futebol (Fifa), uma organização privada, privilegiará a ligação do setor hoteleiro ao Castelão. Ao todo, serão gastos R$ 9,6 bilhões em obras no Ceará. Por isso é fundamental questionar a quem elas servirão.
Ainda mais grave é o temor de que ao menos sete mil famílias venham a ser removidas para regiões sem infraestrutura mínima, acesso a transporte e creches, pois suas moradias darão lugar às intervenções urbanísticas. Casas já estão sendo marcadas, gerando medo entre a população que sofre com a falta de informação e não sabe quando, para onde e sob quais condições será deslocada. Essa situação, aliás, é verificada em todas as cidades-sede, conforme o dossiê da Relatoria Especial da ONU para o direito à moradia adequada, que denunciou violações do direito à moradia, falta de transparência, de diálogo e de negociação justa na preparação das cidades para a Copa de 2014 e para os Jogos Olímpicos de 2016.
Com vistas ao desenvolvimento de mecanismos de monitoramento, estratégias de resistência e publicização de abusos, em 2010 foi constituído, em Fortaleza, o Comitê Popular da Copa, articulação composta por diversos setores da sociedade civil que não aceitam que a cidade continue a ser privilégio daqueles que a veem como negócio. Estamos certos de que esse desassossego, feito pólen ao vento, será levado para outras pessoas, que se somarão às que já optaram por resistir à exclusão e defender que esses investimentos não sejam mais um capítulo da história desta cidade onde as minorias lucram e as maiorias ficam com as migalhas e os prejuízos socioambientais.
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