domingo, 20 de março de 2011

Remoção para obras preocupa especialistas em habitações

Notícia da edição impressa de 17/03/2011
MAURO SCHAEFER/ARQUIVO/JC/ARQUIVO/JC

Duplicação da avenida Tronco deve começar em até um anoAproximadamente 10 mil famílias de Porto Alegre e Canoas podem ser removidas de suas casas devido às obras previstas para a Copa do Mundo de 2014,entre elas a duplicação da avenida Tronco e a construção da Rodovia do Parque. O destino que será dado a essas pessoas causa preocupação aos membros da ONG Cidade, que estuda os problemas habitacionais de Porto Alegre.

Segundo Sérgio Baierle, cientista político da ONG, a maioria das áreas de interesse social mapeadas pela prefeitura de Porto Alegre, para onde deverão ser removidas as famílias, está localizada nos pontos extremos da Capital, e não contam com a infraestrutura necessária para atender às necessidades dessas populações. "É uma ilusão achar que é barato remover para as periferias ao invés de urbanizar as áreas que essas famílias já ocupam", afirma. A indefinição do destino das famílias também preocupa o cientista político. "No caso da avenida Tronco, por exemplo, as famílias ainda não sabem qual será o traçado da via, nem para onde serão removidas, mas mesmo assim o início da obra é esperado para menos de um ano", alerta. 

Baierle lembra que, embora degradadas, as áreas ocupadas pelas famílias que devem ser removidas possuem um acesso às redes de serviços da cidade, como eletricidade, esgotos e água. "Já nas periferias é preciso investir na consolidação da cidade, e todas essas redes precisariam ser construídas do nada nesses novos espaços distantes", comenta. 

De acordo com o cientista político, as famílias teriam oportunidade de ser alojadas em locais próximos de todas as áreas que atualmente ocupam. No entanto, isso não ocorre por falta de interesse do poder público ou mesmo por pressão de moradores vizinhos. "No caso da Vila Nazaré, removida para a extensão do aeroporto, não era necessário levar a população para a região Nordeste da cidade. O que houve foi um movimento de discriminação da população do bairro Lindóia que impediu que fossem destinadas para uma área mais próxima", afirmou.

Para o professor João Rovatti, da Faculdade de Arquitetura da Ufrgs, esses problemas são um dos exemplos da falta de planejamento urbano adequado na cidade. "Seria importante que a Copa do Mundo gerasse um fortalecimento da preocupação com essa área", disse. Segundo Rovatti, existe um consenso das autoridades em torno do legado positivo da Copa, mas poucos lembram que as obras para o evento podem gerar uma herança negativa para diversos setores da população. "Temos que nos preocupar em adaptar a Copa à cidade, e não o contrário", destacou.

Para debater o tema das remoções das famílias para as obras da Copa, será realizada no dia 25 de março, às 14h, uma audiência pública no Auditório Dante Barone, na Assembleia Legislativa. Promovido pelo Ministério Público Federal, o encontro contará com a presença de representantes do Ministério Público Estadual, da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, do Governo do Estado, e dos habitantes das áreas atingidas. 

REALIZAÇÃO DO MUNDIAL DEVE AGILIZAR CONCLUSÃO DE OBRAS, DIZ SECRETÁRIOAs oportunidades que a realização da Copa proporciona ao Rio Grande do Sul foram o tema da palestra que o secretário estadual do Esporte e do Lazer, Kalil Sehbe, realizou ontem na reunião-almoço da Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul (Sergs). Conforme o secretário, que também é coordenador do Comitê Gestor da Copa 2014, a agilidade na execução de diversas obras será um dos benefícios proporcionados pela realização da Copa. 

Reformas na mobilidade urbana em Porto Alegre, a ampliação do aeroporto Salgado Filho e melhorias nas rodovias do Rio Grande do Sul, são alguns dos exemplos de investimentos em infraestrutura que ocorrerão devido ao Mundial da FIFA e que poderiam demorar muito tempo para acontecer. Outro investimento importante citado por Sehbe é na área de capacitação profissional. Um dos projetos da Secretaria do Esporte e do Lazer é a Escola da Copa, que tem o objetivo de capacitar gestores para trabalhar em eventos de grande porte. Serão realizados, até 2014, cursos de qualificação para diversas áreas, como taxistas, motoristas de ônibus, bilheteiros, recepcionistas de hotel, entre outros.

Esses investimentos, conforme o secretário, ficarão como legado para o povo gaúcho. "Tudo o que será feito já é uma necessidade do Estado, mas com a Copa terão um prazo para ser cumpridos", ressaltou Kalil.

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