segunda-feira, 20 de junho de 2011

A destruição de um ícone nacional

A Copa do Mundo e os estádios de futebol no Brasil

Paulo Ormindo de Azevedo






Estádio do Maracanã, Rio de Janeiro. Arquitetos Waldir Ramos, Raphael Galvão, Miguel Feldman, Oscar Valdetaro, Orlando Azevedo, Pedro Paulo Bernardes Bastos e Antônio Dias Carneiro

Foto Peter & Jackie [Wikimedia Commons]
1/3






Participei no último dia 5 do Seminário Mobilidade em Debate: fluxos, deslocamentos e alternativas para o sistema de transporte público na R.M.S., promovido pela Deputada Maria del Carmem. Fiquei surpreso com a participação popular e a ausência das elites. Para resumir, a sociedade pode perder o trem da mobilidade, porque um grupo de empresários já definiu a solução a seu favor. Não temos planejamento público, senão “anti projetos” privados, todos imediatistas e ultrapassados, baseados no diesel, no pneu e minhocões.

Juca Kfouri em artigos de 4/2/07 e 11/06/09 na Folha de São Paulo afirma que só a partir da Copa do Japão/Coréia do Sul, em 2002, a Fifa passou a exigir a construção de arenas, em grande parte porque esses países e a África do Sul não possuíam estádios em condições. A Alemanha aproveitou 2006 para demonstrar e vender sua alta tecnologia em coberturas de estádios. A partir desse momento, a Fifa passa a capitanear um complexo industrial-esportivo com a Hyundai-Kia, produtora de trens velozes, metrôs e quarta fabricante mundial de carros, Sony, Continental, Adidas, Coca Cola, Budweiser e Mac Donald.

Se as nossas cidades são carentes de infraestrutura, não se pode dizer o mesmo do futebol. Somos uma potência mundial, com um rei, o único pentacampeonato e a maior rede de estádios do mundo. Com pequenas obras, nossos estádios poderiam agasalhar a Copa de 2014, sendo destinado o grosso dos investimentos para e tempo à melhoria da infraestrutura de nossas cidades. O que estamos assistindo na TV é o contrário, a implosão de estádios novos para a construção de arenas bilionárias, elitistas e excludentes, com camarotes, restaurantes e salões VIPs. Algumas serão elefantes brancos em cidades cujas torcidas não passam de 3000 pessoas. Isto quando se está, em todo o mundo, reciclando antigas fábricas para novas funções.

Fiquei também surpreso com alguns expositores que saudaram a Fifa como benemérita por exigir transporte de massa para nossas cidades. Não sejamos ingênuos. A Fifa não está interessada na qualidade de vida, nem a segurança de seus torcedores, senão no sucesso do evento. Prova disto é o fato de não exigir nada que se refira à questão sanitária e à segurança publica. Nossas urbes são cortadas por rios contaminados, focos de dengue e leptospirose, rios que as paralisam quando chove. Temos ainda seqüestradores, assaltantes de ônibus e torcidas armadas. Muito pouco foi pedido a este respeito e está sendo feito.

Não se conhece, por outro lado, ação da Fifa em favor do esporte amador, da educação esportiva, da repressão à violência nos estádios, à corrupção e à lavagem de dinheiro pela máfia russa. Ela está interessada, sim, nos direitos de transmissão da TV, nos negócios associados e patrocínios bilionários. Como conseqüência, incentiva a venda de equipamentos de alta tecnologia, como TVGs, metrôs, centrais de comunicações, equipamentos para aeroportos e arenas.

No momento que as instituições internacionais, como a ONU, FMI e BIRD, têm cada vez menos força, é estranha a subserviência de nossas autoridades à entidade mais mercantilista do sistema. A isto se soma a falta total de planejamento e controle. Coincidentemente a Fifa é uma associação helvético-brasileira. Sim, porque Havelange reinou nela durante 24 anos e sua família ainda controla grande parte dos negócios da Fifa e de sua afiliada CBF. O atual presidente da Fifa, Blatter, seu sucessor, é sua cria. Foi designado por ele diretor técnico em 1975, promovido a secretário geral em 1961, indicado presidente em 1998.


Metade das arenas brasileiras foi projetada por escritórios alemães e cerca de oito tem coberturas da mesma origem e deverão ser geridas por consórcios binacionais. Como contrapartida, as obras das arenas foram dadas para as quatro irmãs nacionais. Oito dessas obras têm problemas no TCU e três são insustentáveis. Chega-se ao ridículo de aceitar a destruição das arquibancadas do maior estádio do mundo, monumento nacional, e retirada de sua marquise, recorde da engenharia nacional, para colocar em seu lugar uma tela, que só irá produzir mormaço. Onde está o Iphan e o orgulho nacional?"

http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/11.131/3924notaNEhttp://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/11.131/3924

Artigo publicado no jornal A Tarde

Nenhum comentário:

Postar um comentário