Gente. Esse é o foco da reportagem que a Carta Capital publicou em sua última edição entre as páginas 12 e 15. Mil e cem pessoas foram expulsas de um prédio que haviam ocupado há dois meses e, como antes, ficaram sem ter para onde ir. O caso tratado pela revista aconteceu em São Paulo, mas podia ter acontecido em qualquer uma das grandes cidades brasileiras. Liderada pela Frente de Luta por Moradia (FLM), a ocupação começou em outubro, com 840 famílias tomando um prédio abandonado.
A matéria de Fábio Fujita faz o que o Estado não faz: trata as pessoas como pessoas, como sujeitos, como seres com história, com cultura, com relações sociais dinâmicas. As fotografias, de Monica Alves, vão no mesmo caminho. Das onze fotos, apenas uma não mostra ao menos uma pessoa. A imagem principal mostra as 22 sacadas do edifício e a marquise lotadas com as centenas de famílias.
Nas quatro páginas, o repórter conta histórias de algumas das pessoas que estavam no edifício número 905 da Avenida Ipiranga até a ordem de reintegração de posse, quando se retiraram pacificamente ao som da música “Vida de Gado”, de Zé Ramalho. São pequenos perfis, de um ou dois parágrafos, vidas que se cruzaram no edifício e, agora, na revista.
O texto cruza as histórias e chega às relações sociais que se estabeleceram entre os moradores, que precisaram criar regras para conviver. Essas regras só são cumpridas à risca porque, dentro das diferenças, os moradores conseguem perceber que lutam a mesma batalha, e o espírito de solidariedade e companheirismo supera as dificuldades.
Uma crítica, porém, precisa ser feita: o grande mérito da matéria é também seu principal problema. O foco nas histórias pessoais e nas relações do grupo é tão forte que ficam um pouco de lado os trâmites que levaram à expulsão dos ocupantes do prédio. Também faltou tratar da situação geral dos problemas de moradia no Brasil. Estão ali os números de SP (déficit de 700 mil moradias e 505 mil imóveis ociosos), mas nada mais que isso.
De qualquer forma, os problemas causados pelo foco escolhido – que acabou excessivamente prioritário – não chegam nem perto de anular o grande mérito da reportagem: a valorização das pessoas e das possibilidades de relações que podem ser estabelecidas entre elas: a opressão de não ter onde morar ou a solidariedade de lutar juntos pelos direitos do grupo. Recentemente, escrevi um artigo para um blog de estudantes de jornalismo do Centro Universitário UNA, que cobria a situação de um edifício ocupado em Belo Horizonte. O artigo analisava as motivações da grande mídia para ignorar o grave problema da moradia no Brasil. Felizmente a Carta Capital foi na contramão.
Postado por Alexandre Haubrich
http://jornalismob.wordpress.com/2010/12/09/carta-capital-mostra-que-sem-teto-e-gente/
Nas quatro páginas, o repórter conta histórias de algumas das pessoas que estavam no edifício número 905 da Avenida Ipiranga até a ordem de reintegração de posse, quando se retiraram pacificamente ao som da música “Vida de Gado”, de Zé Ramalho. São pequenos perfis, de um ou dois parágrafos, vidas que se cruzaram no edifício e, agora, na revista.
O texto cruza as histórias e chega às relações sociais que se estabeleceram entre os moradores, que precisaram criar regras para conviver. Essas regras só são cumpridas à risca porque, dentro das diferenças, os moradores conseguem perceber que lutam a mesma batalha, e o espírito de solidariedade e companheirismo supera as dificuldades.
Uma crítica, porém, precisa ser feita: o grande mérito da matéria é também seu principal problema. O foco nas histórias pessoais e nas relações do grupo é tão forte que ficam um pouco de lado os trâmites que levaram à expulsão dos ocupantes do prédio. Também faltou tratar da situação geral dos problemas de moradia no Brasil. Estão ali os números de SP (déficit de 700 mil moradias e 505 mil imóveis ociosos), mas nada mais que isso.
De qualquer forma, os problemas causados pelo foco escolhido – que acabou excessivamente prioritário – não chegam nem perto de anular o grande mérito da reportagem: a valorização das pessoas e das possibilidades de relações que podem ser estabelecidas entre elas: a opressão de não ter onde morar ou a solidariedade de lutar juntos pelos direitos do grupo. Recentemente, escrevi um artigo para um blog de estudantes de jornalismo do Centro Universitário UNA, que cobria a situação de um edifício ocupado em Belo Horizonte. O artigo analisava as motivações da grande mídia para ignorar o grave problema da moradia no Brasil. Felizmente a Carta Capital foi na contramão.
Postado por Alexandre Haubrich
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