quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

4 ANOS DE RESISTÊNCIA DA OCUPAÇÃO 20 DE NOVEMBRO

Correio do Povo


ANO 116 Nº 53 - PORTO ALEGRE, SEGUNDA-FEIRA, 22 DE NOVEMBRO DE 2010

Data reforça luta pela moradia

Famílias retiradas do Centro estão desde 2007 na avenida Padre Cacique
(foto: paulo nunes)


Integrantes do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) realizaram sábado uma série de atividades para comemorar os quatro anos de resistência da Ocupação 20 de Novembro. Em 2006, 36 famílias se fixaram em um prédio vazio na esquina da avenida Mauá com a rua Caldas Junior. Quatro meses depois, no dia 23 de março de 2007, as famílias foram despejadas e realocadas para um assentamento precário localizado na avenida Padre Cacique, 1345.

Para marcar a data e dar mais visibilidade ao movimento, às 16h de ontem alunos da Ufrgs realizaram atividades esportivas e recreativas com as crianças no parque Marinha do Brasil. No fim da tarde, às 18h, ocorreu a exibição do vídeo "Ocupação 20 de Novembro: Quando morar é um privilégio, ocupar é um direito", que narra o processo de despejo dos moradores no Centro da cidade até a ida para o atual assentamento. No local, onde 23 famílias estão instaladas, está prevista a construção de um hotel pelo Sport Club Internacional para a Copa do Mundo de 2014. Porém, ainda não há solução para readequar os moradores.

O encerramento das festividades ocorreu às 19h, com uma festa comunitária de música popular. Cerca de cem pessoas ligadas ao movimento participaram da programação.

Segundo a coordenadora do movimento em Porto Alegre, Ceniriani da Silva, a comemoração serviu para lembrar que o prédio, um dia habitado por eles, continua abandonado. No imóvel, os moradores criaram a Cooperativa 20 de Novembro, que possui núcleos de geração de renda nas áreas de reciclagem, comunicação e alimentação para eventos.

A COPA DE 2014 É AQUI, E NÓS PARA ONDE VAMOS?



OCUPAÇÃO 20 DE NOVEMBRO:
4 ANOS DE RESISTÊNCIA E LUTA!!!!

No dia 20 DE NOVEMBRO DE 2006 o Movimento Nacional de Luta pela Moradia- MNLM ocupou, pela segunda vez, o prédio situado na esquina da Avenida Mauá com a caldas Junior no centro de Porto Alegre.

A ocupação teve como objetivos denunciar os vazios urbanos, a especulação imobiliária e provocar o debate da reversão de imóveis utilizados para fins ilícitos para moradia popular, pois o imóvel em questão, construído com dinheiro público e privatizado fora utilizado pelo PCC em tentativa de assalto.

4 ANOS DEPOIS O PRÉDIO EM QUESTÃO CONTINUA NÃO CUMPRINDO NENHUMA FUNÇÃO SOCIAL! (Conforme determina o Estatuto das Cidades Lei 10.257/01)

Desde 23 DE MARÇO as famíliasDE 2007 do MNLM encontram-se assentadas provisoriamente em área pública na Avenida Padre Cacique. As famílias retomaram os núcleos de produção e com seu trabalho restauraram o imóvel público.

COOPERATIVA 20 DE NOVEMBRO

Atualmente, funciona no assentamento a COOPERATIVA 20 DE NOVEMBRO, que possui núcleos de comunicação (serigrafia, designer gráfico, criação de sites e blogs), alimentação (refeições para eventos e padaria), Reciclagem, Estacionamento, Artesanato e Prestação de Serviços . Todos os núcleos possuem uma organização autogestionária, a administração do empreendimento é coletiva e democrática, todas as decisões e investimentos são discutidos coletivamente e o resultado é dividido igualmente entre todos.

Hoje a Cooperativa 20 de Novembro tem abrangência municipal e gera renda para os e as militantes do movimento além de uma porcentagem do resultado obtido ser revertido para a luta do MNLM na cidade.

NOVA AMEAÇA!!!

No local onde as famílias encontram-se assentadas provisóriamente, que fica ao lado do Sport Club Internacional, há um projeto de construção de prédios de hotel para a Copa de 2014.

As obras já iniciaram! E as famílias questionam:

"A COPA DE 2014 É AQUI, E NÓS PARA ONDE VAMOS???"

4 ANOS DE RESISTÊNCIA DA OCUPAÇÃO 20 DE NOVEMBRO





DIA 20/11 (Sábado)

VENHA CONFRATERNIZAR CONOSCO E SE SOMAR A LUTA!!!




No dia 20 de novembro de 2006 o Movimento Nacional de Luta pela Moradia - MNLM ocupou, pela segunda vez, o prédio situado na esquina da Av. Mauá com a R. Caldas Junior no centro de Porto Alegre.

A ocupação teve como objetivos denunciar os vazios urbanos, a especulação imobiliária e provocar o debate da reversão de imóveis utilizados para fins ilícitos para moradia popular, pois o imóvel em questão, construído com dinheiro público e privatizado fora utilizado pelo PCC em tentativa de assalto.

No dia 23 DE MARÇO DE 2007 as famílias foram despejadas, e até hoje encontram-se assentadas provisoriamente em uma área pública situada na Av. Padre Cacique. As famílias retomaram os núcleos de produção e com seu trabalho restauraram o imóvel público.

4 ANOS DEPOIS O PRÉDIO EM QUESTÃO CONTINUA NÃO CUMPRINDO NENHUMA FUNÇÃO SOCIAL! (Conforme determina o Estatuto das Cidades Lei 10.257/01)


16h

Atividades Recreativas e Esportivas

18h
Exibição do vídeo
“Ocupação 20 de Novembro: Quando morar é um Privilégio, Ocupar é um Direito”

19h
Festa com som pra todos os gostos
Música gaúcha com CIRO FERREIRA
Hip Hop com REVOLUÇÃO RS

IBGE divulga situação de imóveis vagos em Porto Alegre

Cidade - Lucimar F. Siqueira
2010-12-28 07:07:00

Primeiros resultados do censo IBGE 2010 mostram a situação dos imóveis vagos em Porto Alegre.

Como pode ser observado na tabela abaixo, Porto Alegre tem mais de 48 mil imóveis vagos, ou seja, não estão sendo ocupados sequer ocasionalmente. Ressalte-se que isto é diferente de imóveis fechados, que significa que os recenseadores do IBGE sabem por informações que o imóvel é ocupado, mas não conseguiram encontrar ninguém em casa para entrevistas.

O interessante agora é cruzar esta informação dos primeiros resultados do Censo 2010 com dados que a Prefeitura de Porto Alegre vem trabalhando a respeito do déficit habitacional.

Censo 2010 – Primeiros Resultados – Disponíveis no site do IBGE
Conforme o Diagnóstico do Setor Habitacional de Porto Alegre divulgado em fevereiro de 2009, a Prefeitura Municipal trabalha com um déficit de 38.572 moradias e aproximadamente 124.000 domicílios em situação inadequada (valores definidos a partir dos dados do IBGE do ano de 2000 e atualizado através de métodos de expansão em 2004).
Mesmo considerando que estes números podem vir a ser ajustados por causa das novas informações do censo 2010, não se pode deixar de destacar a contradição de se gastar dinheiro construindo novas habitações enquanto existem 48.635 domicílios particulares vagos para uma demanda oficial de 38.572. Claro que com certeza nem todos estes imóveis vagos seriam adequados para a resolução do déficit, mas o mínimo que se deve pensar é sobre uma estrutura fiscal e jurídica (por sinal já sinalizada pelo Estatuto da Cidade) capaz de cobrar destes proprietários a função social da propriedade. Portanto, mesmo que a Prefeitura não utilize diretamente estes imóveis para a solução do problema, eles poderiam não só financiar pelo menos parte das novas construções (por conta dos instrumentos fiscais) como também, ao serem colocados no mercado, baixar o preço da terra (e das habitações).

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Prefeitura do Rio de Janeiro também investe contra pobres


Na sexta-feira (17/12), foi a vez do prefeito Eduardo Paes utilizar a Guarda Municipal contra a população pobre do Rio de Janeiro. Uma ação de desocupação, comandada pela sub-prefeitura da Barra da Tijuca, utilizou da força para retirar famílias da área da Restinga, conhecida também como Vila do Recreio II, no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio.
A Guarda Municipal arrombou portas, quebrou portões, distribuiu ofensas e agressões a moradores e apoiadores, segundo militantes do direito à moradia. Ao chegar ao local, uma Defensora Pública foi impedida de entrar nas residências e avaliar as condições das famílias. Ao longo da tarde, a pressão da Comissão da Alerj e da Secretaria Estadual de Direitos Humanos diminuiu o ímpeto dos agentes da guarda municipal.


Natal com Teto


O Andes-SN, em conjunto com outras entidades sindicais e do movimento social, convida a população do Rio para o Ato “Natal com Teto”, que será realizado nesta terça-feira (21/12). A proposta é fazer uma caminhada com cantoria do prédio desocupado do INSS (Av. Mem de Sá, 234) até a sede regional do INSS (Rua Pedro Lessa). A concentração será a partir das 16h, na praça da Cruz Vermelha. A organização do ato sugere aos participantes para levar instrumentos musicais, panelas e faixas.

Fonte: Boletim Asduerj

Violência de Estado contra população pobre

Em mais uma ação violenta contra a população pobre do Rio de Janeiro, a polícia militar desocupou na manhã do dia 13 de dezembro um prédio abandonado do INSS na Av. Mem de Sá, 234. O edifício vem sendo utilizado como habitação por trabalhadores sem-teto desde 2007 e já foi alvo de seguidas ações policiais. Na madrugada da segunda-feira (13/12), cerca de 23 famílias tentaram mais uma vez ocupar o prédio. No entanto, a ação policial foi mais rápida do que o habitual e investiu contra os sem-teto com bombas de gás lacrimogênio, mesmo tendo no local crianças e uma mulher grávida. Sete pessoas foram presas e muitas saíram feridas.
A operação policial vitimou também a defensora pública do Estado, Adriana Britto, que estava no local para tentar uma solução pacífica para o problema quando foi atingida com spray de pimenta. Em nota, a Associação Nacional dos Defensores Públicos (Anadep) manifestou repúdio à agressão por parte da polícia. No texto, a Anadep lembra que “O direito à moradia é um direito social e deve ser respeitado pelos agentes do estado, principalmente quando conjugado com a função social da propriedade, conforme estabelece a Constituição da República”.


segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

IBGE divulga situação de imóveis vagos em Porto Alegre

Primeiros resultados do censo IBGE 2010 mostram a situação dos imóveis vagos em Porto Alegre.
Como pode ser observado na tabela abaixo, Porto Alegre tem mais de 48 mil imóveis vagos, ou seja, não estão sendo ocupados sequer ocasionalmente. Ressalte-se que isto é diferente de imóveis fechados, que significa que os recenseadores do IBGE sabem por informações que o imóvel é ocupado, mas não conseguiram encontrar ninguém em casa para entrevistas.
Censo 2010 – Primeiros Resultados – Disponíveis no site do IBGE.
Nome do Município
Porto Alegre
Total de domicílios particulares
574.001
Total de domicílios particulares ocupados
502.155
Total de domicílios particulares não-ocupados vagos
 48.635
Total de domicílios particulares não-ocupados fechados
   6.917
Total de domicílios particulares não-ocupados de uso ocasional
 16.294

O interessante agora é cruzar esta informação dos primeiros resultados do Censo 2010 com dados que a Prefeitura de Porto Alegre vem trabalhando a respeito do déficit habitacional.
Conforme o Diagnóstico do Setor Habitacional de Porto Alegre  divulgado em fevereiro de 2009 a Prefeitura Municipal trabalha com um déficit de 38.572 moradias e aproximadamente 124.000 domicílios em situação inadequada (valores definidos a partir dos dados do IBGE do ano de 2000 e atualizado através de métodos de expansão em 2004).
Mesmo considerando que estes números podem vir a ser ajustados por causa das novas informações do censo 2010, não se pode deixar de destacar a contradição de se gastar dinheiro construindo novas habitações enquanto existem 48.635 domicílios particulares vagos para uma demanda oficial de 38.572. Claro que com certeza nem todos estes imóveis vagos seriam adequados para a resolução do déficit, mas o mínimo que se deve pensar é sobre uma estrutura fiscal e jurídica (por sinal já sinalizada pelo Estatuto da Cidade) capaz de cobrar destes proprietários a função social da propriedade. Portanto, mesmo que a Prefeitura não utilize diretamente estes imóveis para a solução do problema, eles poderiam não só financiar pelo menos parte das novas construções (por conta dos instrumentos fiscais) como também, ao serem colocados no mercado, baixar preço da terra (e das habitações).
 Lucimar F Siqueira - Geógrafa

PRORROGADO PRAZO PARA PREFEITURAS, ESTADOS E DISTRITO FEDERAL ENTREGAREM OS PLANOS LOCAIS DE HABITAÇÃO AO MINISTÉRIO DAS CIDADES


Segundo informação divulgada em 09/12/2010 no site do Ministério das Cidades, os municípios, estados e Distrito Federal tem prazo ampliado até o final de 2011 para a conclusão do Plano Local de Habitação.
De acordo com o 10º BALANÇO - Janeiro a Abril de 2010 do PAC, Porto Alegre tem investimento previsto de 65,9 milhões de reais até o prazo final de apresentação do Plano ao Ministério das Cidades.
A elaboração do Plano é composta por três etapas. São elas: proposta metodológica, diagnóstico do setor habitacional e estratégias de ação. O documento divulgado no site do DEMHAB trata apenas da Etapa II do Plano Municipal de Habitação de Interesse Social.
Uma observação que cabe neste momento em relação ao diagnóstico do setor habitacionalé que a partir de dezembro de 2010 as prefeituras contam com os dados do IBGE para complementar os levantamentos anteriores realizados pelas prefeituras.
Porto Alegre está tendo uma oportunidade ímpar para concluir e atualizar estes dados pois a Prefeitura ainda trabalha com dados do censo de 2000, atualizados em 2004 através de métodos estatísticos para expansão de dados do IBGE. Foi baseado nestes dados que em 19 de junho de 2009 o então Prefeito de Porto Alegre José Fogaça tomou conhecimento da situação habitacional de Porto Alegre (Leia a notícia Fogaça recebe plano para superar déficit habitacional”)
Neste cenário contando com investimentos do Governo Federal, dados atualizados do IBGE e mais a ampliação do prazo para conclusão Porto Alegre deverá apresentar à sociedade e ao Ministério das Cidades não só a situação real relacionada à habitação mas, principalmente, as estratégias de ação e planejamento para melhoria da qualidade de vida da população beneficiada.
O prazo ampliado também possibilita adequar as propostas das políticas habitacionais às modificações que ocorreram em importantes instrumentos jurídicos e urbanísticos que dão suporte a implementação de políticas habitacionais como por exemplo PL Nº 008/10 que trata das Áreas de Interesse Social relacionadas a COPA 2014.
Abaixo a relação de municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre beneficiados com  investimentos para elaboração do Plano Local de Habitação – PAC 1
Município beneficiado
Data
da
Seleção
Investimento previsto até e pós 2010 (R$milhares)

Estágio
Alvorada
jan-08
65,6
Concluído
Arroio dos Ratos
set-07
30,9
Ação Preparatória
Cachoeirinha
set-07
71,7
Em obra
Campo Bom
jan-08
67
Em obra
Canoas
set-07
71,7
Ação Preparatória
Capela de Santana
set-09
30,6
Ação Preparatória
Charqueadas
set-07
71,7
Em licitação
Dois Irmãos
set-07
61,8
Em obra
Eldorado do Sul
set-07
76,4
Em obra
Estância Velha
jan-08
30,9
Em obra
Esteio
set-07
70,2
Concluído
Glorinha
jan-08
62,3
Em obra
Gravataí
set-07
71,7
Em obra
Guaíba
set-09
70
Ação Preparatória
Montenegro
jan-08
69,2
Concluído
Nova Hartz
set-07
30,9
Em obra
Nova Santa Rita
set-07
61,8
Em obra
Novo Hamburgo
set-07
71,7
Em obra
Parobé
jan-08
65,8
Em obra
Portão
jan-08
53,1
Concluído
Porto Alegre
jan-08
65,9
Em obra
Santo Antonio da Patrulha
jan-08
62,3
Em obra
São Leopoldo
set-07
71,7
Em obra
Sapiranga
set-07
71,7
Em obra
Sapucaia do Sul
jan-08
71,7
Em obra
Taquara
jan-08
67,6
Concluído
Viamão
set-07
71,7
Em obra
Lucimar F. Siqueira - Geógrafa


sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

42 anos depois um novo AI-5, contra os pobres do Rio

Balas de borracha, gás lacrimogêneo, sprays de pimenta... 


Rodrigo Brandão, da Equipe do EDUCOM 

Em pleno aniversário de 42 anos do Ato Institucional Nº 5, que a direita baixou em 13 de dezembro de 1968 para radicalizar de vez sua ditadura empresarial-militar (1964-85), o Rio de Janeiro do governador Sergio Cabral, aquele que virou "herói" do oligopólio da mídia por mandar a polícia e até o Exército massacrarem as favelas, teve mais uma prova de que nestas fronteiras foi instituído um outro AI-5. Cerca de uma centena de sem teto, entre homens, mulheres - algumas grávidas - e crianças, além de um grupo de militantes pelo direito a trabalho e moradia e um vereador presentes como apoios foram ontem escorraçados pelo Choque da PM de um prédio do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) no centro do Rio abandonado há 20 anos, a base de pancadas de cassetetes, bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e sprays de pimenta. Tudo isso sem que os "proprietários", o Ministério da Previdência, ou seja, a União, em última análise o povo brasileiro, em resumo sem que destes entes que nos representam tenha saído sequer um pedido de reintegração de posse.

O saldo da truculência liderada pelo capitão Thiago Machado, do Batalhão de Choque - quem com prepotência desembarcou na Praça da Cruz Vermelha aos berros de "vou liberar o prédio agora" e "tirem as mãos da minha viatura" - registra uma dezena de feridos, um estudante com perfurações na perna e no queixo depois de ser atingido por estilhaços de uma bala de borracha e sete ativistas detidos até as 4 horas desta madrugada na sede estadual da Polícia Federal, na Praça Mauá - todos irão responder a "processos" por "lesão corporal", alguns até, acredite, por "sequestro" e desacato a autoridade. Alguns foram liberados sob fiança e ainda podem ser obrigados a indenizar policiais. O governo do Rio de Janeiro já não faz questão de esconder que seu projeto de "revitalização do Centro" tem o principal foco na expulsão de cariocas sem teto que vivem em diversas ocupações espalhadas pela região.

Mas qual seria o objetivo de toda essa operação de "limpeza" étnica e criminalização da pobreza? Respondemos. Preparar o que Sergio Cabral e seu assessor, o prefeito do Rio Eduardo Paes (o mesmo que anos antes de se candidatar disse não ver grandes problemas no controle de favelas por milícias de policiais) chamam de Corredor Olímpico, o entorno das sedes dos Jogos Rio 2016 e do principal palco da Copa do Mundo de 2014, o Maracanã, para a chegada de autoridades e atletas que estarão na cidade durante os megaeventos. Para Cabral e Paes, o Rio nunca foi, não é e sobretudo agora jamais o será de sua população, mas na verdade um cartão postal a ser maquiado e "revitalizado" através de "choques de ordem" e do Estado policial estruturado pelo secretário de Segurança, Mariano Beltrame e o ministro da Defesa, Nelson Jobim. Não pode haver "obstáculos" a que a cidade - na verdade os empresários da cidade - aproveite essa grande oportunidade para faturar milhões de dólares. Os prédios abandonados do INSS no centro do Rio, em consequência do desmonte da estrutura do antigo Inamps - a assistência médica da Previdência vem sendo transferida ao SUS - tornaram-se autênticos latifúndios urbanos e, portanto, instrumentos táticos do movimento pela Reforma Urbana. Mas nem o governo federal, muito menos as instâncias executivas locais demonstram sensibilidade para aproveitar a oportunidade e desenvolver políticas sociais.


Protesto foi pacífico

A antiga agência do INSS localizada na Rua Mem de Sá, 234, já havia sido ocupada por sem teto ativistas no MTD (Movimento dos Trabalhadores esempregados) Pela Base, FIST (Frente Internacionalista dos Sem Teto) e Movimento Pela Moradia, sempre apoiados por Rede de Movimentos Pela Moradia, CMP (Central de Movimentos Populares) e Núcleo Estudantil de Apoio à Reforma Agrária em outras duas ocasiões nos últimos três anos. O resultado foi o mesmo em ambas as vezes. A Polícia Militar despejou brutalmente em questão de dias ? ontem foi questão de horas - os sem teto, assim como na segunda-feira, com apoio da PF. Depois da remoção de 2009, bastante noticiada por causa da já ali demonstrada crueldade do capitão Thiago e seu Batalhão de Choque, o "proprietário" do latifúndio urbano - apuramos que o prédio está perto de ser recuperado pela União como execução de dívidas - mandou reforçar o trancamento dos acessos. Os ativistas lutam para construir ali o que será a Ocupação Guerreiro Urbano e realizavam protesto pacífico em defesa do legítimo direito de morar, sob o lema "Ocupar, resistir, construir e produzir". Aí o Choque entrou em ação.

Estávamos nas primeiras horas do dia 13, que seria marcado por manifestações da esquerda em memória das vítimas do regime de 1964, quando dezenas de famílias de sem teto, juntamente com militantes na Guerreiro Urbano, ocuparam o nº 234 da Rua Mem de Sá, nas cercanias da  Praça da Cruz Vermelha, até 1990 agência do INSS. Com megafone e um carro de som cedido pelo Sindipetro-RJ, o apoio político cercou a entrada do prédio durante toda a manhã, enquanto divulgava para os transeuntes os objetivos da ação política. Acionada pelo vigia da noite, policiais militares não demoraram a chegar. Uma viatura foi estacionada
junto à porta e deixada com o motor ligado todo o tempo, obrigando os ativistas que ali estavam, entre a P2 e o edifício, a suportarem forte calor e respirarem o monóxido de carbono da descarga. Um mutirão garantia o envio de alimentos e água - cortada após a ocupação - às famílias de sem teto. Enquanto a PM aguardava "ordens" e reforço, lideranças dos movimentos Pela Moradia e MTD Pela Base, defensores públicos do Núcleo de Terras e Habitação, bases de mandatos parlamentares do PSOL, o vereador Reimont Santa Bárbara (PT) e sindicalistas tentavam fazer contato com o Ministério da Previdência.
Foi constatado que não haveria pedido de reintegração de posse, já que o imóvel está em litígio.

Fonte: www.intersindical.inf.br

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Guerreiros Urbanos violentados em despejo


Por Thaís Morelli

Na manhã desta terça-feira, 13/12, um ato pacífico a favor da moradia foi realizado na Rua Mem de Sá, centro do Rio de Janeiro. Concomitante à manifestação, 25 famílias ocuparam um prédio local inutilizado e, poucas horas depois, foram despejadas violentamente pela polícia. Os manifestantes que prestavam apoio aos moradores da ocupação também sofreram com a ação truculenta dos policiais, que atiraram balas de borracha, spray de pimenta e gás lacrimogêneo. Um estudante que estava numa lanchonete ao lado foi ferido no pescoço e teve que ser socorrido no INCA e outras sete pessoas foram presas.
 
O edifício ocupado pertence ao INSS e há mais de 20 anos está inutilizado, o que contraria leis como do Estatuto da Cidade. A Constituição Federal prevê o direito à moradia e define que todo imóvel deve cumprir sua função social, o que torna ilegal mantê-lo desocupado para especulação imobiliária. No entanto, o que deveria garantir moradia digna à população não é cumprido, e as estatísticas demonstram que no Brasil o número de imóveis inutilizados ultrapassa o de pessoas sem boas condições de moradia. Segundo dados do IBGE, há mais de 6 milhões de imóveis abandonados, mais que os 5,8 milhões necessários para atender a demanda da população por lares adequados. Assim sendo, ocupar prédios que não cumprem sua função social é garantir que um direito seja atendido, ou seja, não é ilegal.
 
A ação vergonhosa da Polícia Militar, que expulsou os ocupantes e reprimiu a manifestação sem considerar a presença de crianças e grávidas no local, não é inédita no Rio de Janeiro, e demonstra que a opressão tem respaldo do Estado. Os planos de revitalização da cidade  levam à exclusão social em grande escala, e beneficiam poucos em detrimento dos que constituem a parcela mais pobre da população. Manifestações contrárias aos métodos adotados são sistematicamente reprimidas e silenciadas devido ao apoio da grande mídia ao governo. Mesmo quando o enfrentamento dos participantes de movimentos sociais com a polícia é mostrado, os motivos que geraram as manifestações são negligenciados e não entram em discussão. A consequencia é uma absorção incompleta dos fatos pela população, ausente de análise e, por causa disso, muitas vezes indiferente aos fatos.
 
Este acontecimento remete a outro dia 13 de dezembro. Em 1968 foi instituído o AI-5, decreto emitido durante a ditadura militar brasileira que suspendia diversas garantias constitucionais e funcionava como lei do silêncio. Resta então uma pergunta: apesar de legítima a atuação dos manifestantes, houve repressão policial. Mas a maior violência está no ataque direto aos participantes do ato ou no silenciamento de seus propósitos?

Festa na Ocupação Manuel Congo

 Nesta sexta-feira (17/12), o Movimento Nacional de Luta por Moradia (MNLM) convida para a celebração de mais um final de ano na Ocupação Manuel Congo, para brindar as conquistas do passado e para sonhar, juntos, as vitórias do futuro. Em 2010, depois de três anos de muita luta, os militantes da ocupação conquistaram a escritura do imóvel onde residem. A confraternização será, a partir das 19h, na Casa de Samba Mariana Crioula (Rua Evaristo da Veiga, 17, Centro). Como nos anos anteriores, haverá uma mesa de partilha, para a qual cada um trará algo de comer para compartilhar com os presentes.

A Segurança Pública como Direito à Cidade

Vivemos dias de apreensão, temor e indignação na última semana diante da multiplicação de situações de violência em nossa cidade. Seja nos arrastões e incêndios de veículos que se espalharam em diferentes lugares, seja nos conflitos violentos que se mostraram eminentes em algumas favelas, a sensação de insegurança e o medo pelas vidas ameaçadas tomaram conta da cidade.
São inaceitáveis as condições de segurança pública que vivemos há mais de três décadas. Mais inaceitável ainda é reconhecer que o atual quadro resulta da perda de soberania por parte do Estado
 
As ações violentas praticadas são inaceitáveis e representam atos criminosos que colocam em risco a vida de cidadãos e cidadãs, além de atentar contra a ordem pública urbana. Porém, não concordamos com a definição de tais atos como práticas terroristas, pois como conseqüência imediata, eles são usados para justificar respostas de exceção por parte da forças de segurança do Estado. É sempre bom lembrar que estabelecer exceções, invariavelmente, nos conduz ao abuso, particularmente quando o Estado é o único - e o exclusivo - protagonista no campo da segurança.

Chegamos muito próximos a situações de descontrole e de medo exacerbado, motivadas por ondas de boatos postados em mensagens pela internet, em telefonemas, ou difundidas pelas ruas. Contribuíram para o agravamento da insegurança a indesculpável atitude de empresas de transporte que retiraram ônibus de circulação, justamente na hora do retorno de cidadãos às suas casas. Finalmente, não podemos isentar deste processo a espetacularização da violência por parcela significativa da mídia, em especial determinados programas de TV, que insistiram em criar um “Rio em chamas” para defender ações de guerra contra os “batalhões de terroristas” nas ruas. Por outro lado, é importante louvar setores da imprensa que conduziram com responsabilidade o trabalho de informação ao público e o tratamento correto à complexidade dos acontecimentos.

Passados os momentos de maior tensão, o mês de novembro de 2010 deve ser considerado como mais uma amarga lição. Lição que exige um amplo movimento da sociedade civil em relação a políticas de segurança pública na cidade, no estado e no país. Afinal, todos nós queremos sair e voltar de nossas casas, trabalhar, estudar, conviver com o amigos, passear, enfim, realizar a vida em uma sociedade de direitos reconhecidos e respeitados integralmente.

Estamos colhendo os frutos amargos de políticas de segurança equivocadas e ineficientes, que jamais observaram a cidade em sua complexidade social e que jamais colocaram em pauta a proteção dos cidadãos como marco do enfrentamento à criminalidade violenta
 
Retomar a soberania republicana da Cidade
São inaceitáveis as condições de segurança pública que vivemos há mais de três décadas. Mais inaceitável ainda é reconhecer que o atual quadro resulta da perda de soberania por parte do Estado em relação a determinados territórios da cidade. Situação que é diretamente responsável pela afirmação do poder de grupos armados em favelas e, portanto, de sua presença criminosa na cidade.

No bojo deste processo as favelas se tornaram extremamente vulneráveis à violência urbana. Elas passaram, então, a ser tratadas como territórios do crime, das drogas e da violência. Embora sendo estratégicas na rede do tráfico de drogas, as favelas são os elos mais frágeis desta rede do ponto de vista político e econômico. Afinal, nas favelas não se planta e/ou se beneficia toneladas de cocaína; não se produz armamentos norte-americanos e israelenses; e, por fim, elas não abrigam a totalidade do mercado de consumidores de drogas. Razões pelas quais não podemos concordar com interpretações equivocadas e superficiais que evocam, após a ocupação de favelas nos conjuntos do Alemão e da Penha, uma triunfal “derrubada do tráfico”, como querem nos fazer crer muitas manchetes. Não se trata de deixar de reconhecer o significado da ocupação do estado em áreas que antes eram dominadas por grupos ligados ao varejo de drogas, mas seria ingênuo crer que o problema se resume à favela. Além disso, uma política de segurança pública eficaz não pode se restringir a esta ou aquela ocupação policial e militar.

Para estes territórios, os mais atingidos pelo contexto de violência da cidade, após a persistência da equivocada linha de confronto militarizado com as facções criminosas, o governo estadual inaugurou em 2008 uma nova estratégia de intervenção policial: as Unidades de Polícia Pacificadora. As  UPPs  explicitam a busca de retomada dos territórios sob controle do tráfico de drogas e da redução dos conflito entre as facções, e entre estas e as milícias, portanto, (re)estabelecendo  direitos civis  fundamentais de comunidades populares.

Por uma Agenda de Segurança Pública
Estamos colhendo os frutos amargos de políticas de segurança equivocadas e ineficientes, que jamais observaram a cidade em sua complexidade social e que jamais colocaram em pauta a proteção dos cidadãos como marco do enfrentamento à criminalidade violenta.

Porém, é hora de mudar. Mudar com conseqüência política e com ações públicas integradas. O Observatório de Favelas vem buscando, em tessitura com outros parceiros institucionais, construir uma agenda pública para a segurança no Rio de Janeiro. Dentre suas propostas destacamos: a retomada da soberania republicana de territórios ainda dominados por grupos armados (incluindo entre estes as milícias); a elaboração de políticas de segurança pública em amplo diálogo e integração com políticas sociais consistentes e duradouras; a criação de alternativas para saída de jovens das redes ilícitas; a afirmação da autoridade do Estado em consonância aos Direitos Humanos; e, sobretudo, o reconhecimento da legitimidade das comunidades populares como protagonistas de políticas de direitos urbanos.

Colocar em causa essa pauta positiva requer, de imediato, o compromisso da responsabilidade do Estado em relação às favelas, implicando a retomada republicana do território como garantia da promoção de direitos sociais e destacando o respeito à vida dos cidadãos como prioridade da política de segurança. É o que reclamavam de suas janelas os moradores do Alemão com seus “estandartes”’ brancos: o direito de viver com dignidade, paz e esperança no futuro.

Observatório de Favelas, 1º de dezembro de 2010

Megaeventos, remoções e privatização da cidade

Por Marília Gonçalves
No último sábado, o curso anual do Núcleo Piratininga de Comunicação realizou no centro do Rio um debate sobre Copa, Jogos Olímpicos, Movimentos Sociais e Comunicação. A mesa reuniu o presidente da Associação de Moradores da Vila Autódromo, Altair Guimarães, os pesquisadores da UFRJ Guilherme Marques Soninho e Gustavo Barreto, a representante do Movimento Nacional de Luta pela Moradia, Maria de Lourdes, além da defensora pública Maria Lúcia Pontes e da relatora da ONU para moradia, Raquel Rolnik.
 

O que estamos fazendo para que novos assentamentos precários apareçam? Isso deve ser pautado no debate sobre as remoções.
 
O tema das remoções foi bastante tratado pelos palestrantes. Maria Lúcia explicou que, antigamente, a remoção era justificada pelo “desconforto visual” causado pelas favelas. Hoje, isso não é mais politicamente correto. Por isso, outras são as justificativas assumidas para explicar a retirada de famílias de suas casas em favelas. Um exemplo dado por ela foi a classificação generaliza de “áreas de risco”. Segundo o jornalista Gustavo Barreto, o Ministro das Cidades, Márcio Fortes, declarou em uma coletiva de imprensa que o Brasil não tem nenhuma política de remoção. Isso porque, na opinião do jornalista, defender remoções é uma vergonha internacional.

Raquel Rolnik chama a atenção para a discussão sobre a política de habitação em si. “O que estamos fazendo para que novos assentamentos precários apareçam? Isso deve ser pautado no debate sobre as remoções”, defende. Guilherme Soninho complementa que não existe sequer uma matéria nos jornais que relacione a política de habitação ao problema concreto de habitação. “Os favelados são sempre os irresponsáveis que escolheram morar ali”, ironiza.

“Ideia é vender a cidade”
Soninho explica que, em épocas de megaeventos, a cidade é vista como uma empresa e, portanto, deve ser gerida por empresários. Com isso, elas competem entre si, na disputa pela atração de capitais privados. “A ideia é vender a cidade”, afirma o pesquisador. “Os projetos não passam por um planejamento sobre o que é melhor para a cidade. Realiza-se o projeto que o capital compra”, complementa. Segundo Rolnik, mais de R$8 bilhões do poder público foram repassados para empreiteiras realizarem o projeto de revitalização da região portuária.

O pesquisador defende ainda que no período dos megaeventos se cria uma espécie de estado de exceção, com aprovação de medidas que muitas vezes se distanciam de um caráter democrático. Ele cita, por exemplo, a permissão de endividamentos maiores por parte do estado e a própria aprovação das remoções sem grande discussão. Além disso, existe desde 2008, segundo Soninho, uma lei que proíbe que aconteça qualquer reunião ou manifestação nas proximidades de qualquer local que envolva atividades dos megaeventos. Isso inclui hotéis em que as delegações estão hospedadas, circuitos por onde passarão as delegações, locais dos jogos e outros. “E isso não acaba com o evento em si. Basta vermos a tentativa de remoção do Canal do Anil pós-Pan, em 2007, devido à necessidade de valorização da Vila do Pan, na Barra”, conclui.