segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Nada queima por acaso nas favelas paulistanas



Estudo estatístico mostra notável coincidência entre os incêndios e… as áreas de  interesses do mercado imobiliário
Por João Finazzi, no PET RI-PUC
[Título original:"Não acredite em combustão espontânea"]
Segundo a física, propelente ou propulsante é um material que pode ser usado para mover um objeto aplicando uma força, podendo ou não envolver uma reação química, como a combustão.
De acordo com o Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, até o dia 3 de setembro de 2012, houve 32 incêndios em favelas do estado – cinco somente nas últimas semanas. O último, no dia 3, na Favela do Piolho (ou Sônia Ribeiro) resultou na destruição das casas de 285 famílias, somando um total de 1.140 pessoas desabrigadas por conta dos incêndios em favelas.
O evento não é novo: em quatro anos foram registradas 540 ocorrências. Entretanto, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada em abril deste ano para investigar os incêndios segue parada, desrespeitando todos os trabalhadores brasileiros que tiveram suas moradias engolidas pelo fogo.
Juntamente com o alto número de incêndios, segue-se a suspeita: foram coincidências?
O Município de São Paulo apresenta 1565 favelas ao longo de seu território, distribuídas, majoritariamente na região Sul, Leste e Norte. Os distritos que possuem o maior número de favelas são: Capão Redondo (5,94% ou 93), Jardim Angela (5,43% ou 85), Campo Limpo (5,05% ou 79), Grajaú (4,66% ou 73). O que significa que 21,08% de todas as favelas de São Paulo estão nessas áreas.
Somando as últimas 9 ocorrências de incêndios em favelas (São Miguel, Alba, Buraco Quente, Piolho, Paraisópolis, Vila Prudente, Humaitá, Areão e Presidente Wilson), chega-se ao fato de que elas aconteceram em regiões que concentram apenas 7,28% das favelas da cidade.
Em uma área em que se encontram 114 favelas de São Paulo, houve 9 incêndios em menos de um ano, enquanto que em uma área em que se encontram 330 favelas não houve nenhum. Algo muito peculiar deve acontecer com a minoria das favelas, pois apresentam mais incêndios que a vasta maioria. Ao menos que o clima seja mais seco nessas regiões e que os habitantes dessas comunidades tenham um espírito mais incendiário que os das outras, a coincidência simplesmente não é aceitável.
Àqueles que ainda se apegam às inconsistências do destino, vamos a mais alguns fatos.
A Favela São Miguel, que leva o nome do bairro, divide sua região com apenas outras 5 favelas, representando todas apenas 0,38% das favelas de São Paulo. Desse modo, a possível existência de um incêndio por ali, em comparação com todas as outras favelas da cidade é extremamente baixa. Porém, ao pensar somente de modo abstrato, estatístico, nos esquecemos do fator principal: a realidade. O bairro de São Miguel é vizinho do bairro Ermelino Matarazzo, o qual, de acordo com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), teve a maior valorização imobiliária na cidade de São Paulo entre 2009 e novembro de 2011, 213,9%. Lá, o preço do metro quadrado triplicou – mas não aumentou tanto quanto a possibilidade real de um incêndio em favelas por ali.
As favelas Alba e Buraco Negro também estão na rota do mercado imobiliário. Dividindo o bairro do Jabaquara com o restante dos imóveis, a favela inviabiliza um maior investimento do mercado na região, que se valorizou em 128,40%. Mas nada como um incêndio para melhorar as oportunidades dos investidores.
Todas as 9 favelas citadas estão em regiões de valorização imobiliária: Piolho (Campo Belo, 113%), Comunidade Vila Prudente (ao lado do Sacomã, 149%) e Presidente Wilson (a única favela do Cambuci, 117%). Sem contar com Humaitá e Areião (situadas na Marginal Pinheiros) e a já conhecida Paraisópolis.
Soma-se a tudo isso, o fato de que as favelas em que não houve incêndios (que são a vasta maioria), estão situadas em regiões de desvalorização, como o Grajaú (-25,7%) e Cidade Dutra (-9%). Cai, juntamente com o preço dos terrenos, a chance de um incêndio “acidental”.
Pensar em coincidência em uma situação dessa é querer fechar os olhos para o mundo. Resta aos moradores das comunidades resistirem contra as forças do mercado imobiliário, pois quem brinca com fogo acaba por se queimar. Enquanto isso, como disse Leonardo Sakamoto, “…favelas que viram cinzas são um incenso queimando em nome do progresso e do futuro.”

domingo, 16 de setembro de 2012

Vidas Sem Lar: documentário mostra o drama da falta de moradia


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Ao longo de três meses, os repórteres do Domingo Espetacularinvestigaram a fundo, as condições de vida de quem não tem onde morar. Uma realidade que atinge 8 milhões de pessoas e que passa praticamente despercebida nas grandes cidades.

Veja também:

Sem-teto ocupam nove imóveis em uma madrugada em SP

Nove prédios públicos são ocupados em SP

domingo, 9 de setembro de 2012

Sem-teto ocupam prédios e terrenos do governo federal em SP


Movimentos que lutam por moradia realizaram diversas ocupações nesta madrugada (03) em terrenos e prédios abandonados da União; um dos locais pertence ao Banco do Brasil, o outro, ao INSS
03/09/2012
José Francisco Neto
de São Paulo 
  
Em menos de 20 minutos, cerca de 200 pessoas
ocuparam o prédio do governo federal. Fotos: Rodrigo Luna


Por volta das 23h50 deste domingo (02), quatro homens com alicates em mãos e mais dois pés de cabra estouraram, em questão de segundos, os cadeados do prédio localizado na rua Doutor Pennaforte Mendes, 80, Bela Vista, centro de São Paulo. Em seguida, cerca de 80 pessoas, entre homens, mulheres e crianças desceram do ônibus e adentraram rapidamente no imóvel - uma antiga fundação do Banco do Brasil - pertencente ao governo federal, abandonado há mais de dez anos. As outras famílias, num total de 200, foram chegando na sequência.
“Vamos tomar cuidado, gente”, alertavam os homens que direcionavam as famílias que, aos poucos, iam se avolumando no prédio de cinco andares. No segundo piso, as bandeiras do movimento por moradia foram colocadas de frente para a rua, uma maneira de se comunicar com quem está do lado de fora.
Crianças, jovens, adultos e idosos compõem o grupo dos sem-teto do Movimento de Moradia da Cidade de São Paulo (MMC). Aos poucos eles foram se organizando da maneira que dava. Cobertores esticados pelo chão e outros com jornais se ajeitavam em meio à poeira que levantava.
Dilce de Souza Cajaíba e Eva Maria, ambas de 54 anos, conversavam enquanto se arrumavam para descansar. “Amanhã, quando eu sair daqui, vou direto pro trabalho”, disse Dilce, que trabalha de doméstica desde quando chegou em SP. Ela argumenta que o aluguel que paga é um dinheiro sem retorno, por isso está no movimento pra conquistar sua moradia. 
“Aqui meu objetivo é pagar por algo que seja meu no futuro. O dinheiro do aluguel vai e nunca volta. Aqui é uma garantia que a gente está pagando, mas sabendo que vai ser nosso”, comenta.
Já Eva conquistou sua moradia há quatro anos, mas sempre está junto com o movimento dando apoio para as famílias que ainda lutam. “Não sou só eu que quero morar bem, quero que as pessoas também morem bem”, afirma.
O objetivo da ocupação, segundo Luiz Gonzaga da Silva, o Gegê, coordenador do MMC e membro da Central de Movimentos Populares (CMP), é negociar com o poder público para exigir moradia digna para as famílias que pagam aluguel e vivem em condições desumanas. “Cada ocupação é um novo momento, não dá pra arriscar se teremos acordo ou não”, comenta. 
Ocupações simultâneas
Outras ocupações ocorreram na madrugada desta segunda-feira em São Paulo. Diversos movimentos que lutam por moradia realizaram ocupações em terrenos e prédios da União, como forma de agilizar os processos que destinam os imóveis para a construção de habitação popular.
Um dos prédios ocupados é o do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), na avenida 9 de julho, também no centro, abandonado há mais de 20 anos. Cerca de 400 pessoas estão neste momento no imóvel, cujo objetivo é agilizar para que se cumpra a proposta do governo federal em transformá-lo em mais de 300 moradias populares. 
De acordo com Gegê, essas ocupações acontecem de forma simultânea na cidade de São Paulo, inclusive na Baixada Santista e no interior paulista. “Hoje acontecem de 8 a 11 ocupações. Lutamos para que nas negociações todos possam ser beneficiados”, salienta Gegê.

Longe do aluguel                  
  
  Famílias sem-teto lutam por moradia digna
A maioria das pessoas que ocuparam o antigo prédio do Banco do Brasil neste domingo está em busca de moradia digna, pois não suportam mais pagar aluguel para morar em situação precária. “Eu moro de aluguel na zona sul de SP. Quero sair dessa situação. O objetivo é trazer minha família junto comigo. Se for pra sair da situação que estou, com certeza eu venho com eles pra cá”, disse Edison da Silva Santos.  
Antônio Alves de Souza, de 64 anos, mora com a esposa em Itaquera, zona leste de São Paulo, e o seu caso se assemelha com o de Edilson. “Eu pago R$ 600 de aluguel. Trabalho durante o dia e estudo a noite com minha companheira. Trabalho de encanador. Ganho R$ 900 por mês, só que lá o cara, além do aluguel, também cobra imposto. Se for somar pago quase R$ 800 mensais”, comenta senhor Antônio. 
Por volta das 3 horas da madrugada, as poucas pessoas que permaneciam acordadas, foram se acomodando para descansar, pois amanhã “seria um novo dia de luta”. “A nossa ideia é permanecer dentro do prédio, para não esvaziar e não corrermos o risco de não entramos mais”, reforça Gegê. 
Ato
Um ato unificado dos movimentos sem-teto está marcado para esta segunda-feira (03) em frente à Secretaria do Patrimônio da União (SPU). Cerca de 3 mil pessoas devem participar do ato, segundo o MMC.

Cortiços: o mercado habitacional de exploração da pobreza




Parece inacreditável a constatação de que os problemas que existiam nos cortiços no início do século 20, conforme estudos e jornais da época, sejam os mesmos dos dias de hoje, como a grande concentração de pessoas em pequenos espaços; um único cômodo como moradia; ambientes com falta de ventilação e iluminação; uso de banheiros coletivos; instalações de esgotos danificados; falta de privacidade; e o fato de comporem um mercado de locação habitacional de alta lucratividade. O artigo é de Luiz Kohara.
Luiz Kohara (*)
A habitação constitui um dos mais graves problemas sociais da cidade de São Paulo. Dentre os inúmeros fatores explicativos estão os baixos salários dos trabalhadores, o alto custo da terra urbanizada e a insuficiência de políticas públicas destinadas às favelas, aos loteamentos precários e, particularmente, aos cortiços. Consequentemente, as condições precárias de moradia têm reflexos perversos na vida das pessoas, pois a habitação é uma das bases fundamentais da estruturação da vida.
A realidade dos cortiços é bastante complexa não apenas por causa do conjunto de situações precárias vividas por seus moradores – basicamente, espaços reduzidos e falta de qualidade de vida –, mas também pelas condições exploratórias dos valores dos aluguéis no acesso a essas moradias.
Parece inacreditável a constatação de que os problemas que existiam nos cortiços no início do século 20, conforme estudos e jornais da época, sejam os mesmos dos dias de hoje. Dentre eles, destacam-se a grande concentração de pessoas em pequenos espaços; um único cômodo como moradia; ambientes com falta de ventilação e iluminação; uso de banheiros coletivos; instalações de esgotos danificados; falta de privacidade; e o fato de comporem um mercado de locação habitacional de alta lucratividade.
Além desses aspectos, os cortiços mantêm as características de estarem, predominantemente, localizados nos bairros centrais da cidade, apresentarem diversas situações de ilegalidades e os seus moradores terem salários insuficientes para acessarem moradias adequadas. Os cortiços, diferentemente das favelas e de outras moradias precárias, quase não são visíveis na paisagem urbana, porque, em geral, são edificações que foram utilizadas como moradias unifamiliares, mas que atualmente abrigam dezenas de famílias. Logicamente, tornam-se visíveis sempre quando há interesse do capital imobiliário na região onde os cortiços estão instalados, porque seus moradores são os primeiros a serem expulsos. Nos últimos 20 anos, somente o Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos acompanhou mais de 200 despejos coletivos de cortiços localizados nos distritos centrais.
Num estudo de 1998 [1] sobre o rendimento obtido nas locações e sublocações de cortiços localizados no bairro da Luz (aqui delimitado pela avenida Tiradentes, rua Mauá e avenida do Estado), pôde-se verificar a grande exploração que se dá no mercado de locação de cortiços, confirmando informações de outras pesquisas que demonstravam que paga-se caro para morar muito mal. Nesse perímetro, foram encontrados 92 imóveis utilizados como cortiços, onde residiam 765 famílias, com o valor médio de locação de R$ 13,2 por m2, valor que representava mais que o dobro que o de moradias unifamiliares com boas condições de habitabilidade localizadas no Centro.
Foi verificado que enquanto no mercado formal o valor mensal do aluguel representava cerca de 0,8% do valor do imóvel, nos cortiços pesquisados o explorador chegava a arrecadar mensalmente até 3,25% do valor do imóvel. O mais grave é que o percentual do rendimento crescia quanto maior fosse a precariedade do cortiço.
Em 2012, passados 14 anos, nova pesquisa [2] na mesma área com os 92 cortiços pesquisados em 1998 verificou que 44 imóveis (48%) deixaram de ser utilizados como cortiços e 48 imóveis (52%) mantiveram esse uso. Além desses, mais 56 imóveis passaram a ser utilizados como cortiços, totalizando 104 cortiços na área, um aumento de 13% em relação a 1998. Verificou-se também um maior adensamento: o número de famílias passou de 765 para 995, um crescimento de 30%. Esse resultado pode ser indicativo de um dos motivos que justifica o crescimento positivo dos distritos centrais, conforme o Censo IBGE 2010, que desde a década de 1980 vinham apresentando taxa negativa de crescimento.
Outros aspectos bastante relevantes encontrados na pesquisa atual são: crescimento da escolarização dos moradores, grande número de famílias de origens paraguaia e boliviana e altos valores cobrados na locação das moradias. É interessante observar que, por causa da irregularidade da documentação dos estrangeiros, o valor da locação é maior para os bolivianos e mais alto ainda para os paraguaios; algumas famílias estrangeiras pagam R$ 700 por pequenos cubículos. Se levarmos em conta o metro quadrado, concluímos que o valor da locação de moradia em cortiços, que em média possuem 12 m², continua sendo o mais alto da cidade de São Paulo.
Vale destacar um aspecto relevante apontado pela pesquisa de 2009 [3]: os resultados escolares apontaram que as crianças moradoras em cortiços possuíam quatro vezes mais chances de serem reprovadas quando comparadas com outros alunos da mesma série. A falta de espaço para dormir adequadamente, a insalubridade das moradias sem janelas, a rotatividade habitacional e a porta de entrada sempre aberta atingem diretamente o desempenho escolar das crianças. Ficou evidente que as condições precárias da moradia eram fatores de limitação para os estudos e geradoras de discriminação e segregação social e, consequentemente, de evasão escolar.
Um aspecto fundamental a ser apontado é que os trabalhadores de baixa renda tornam-se reféns dos exploradores de cortiços na medida em que buscam locais mais favoráveis ao trabalho ou próximos dos benefícios produzidos pela cidade.
Por outro lado, os moradores de cortiços tornaram-se importantes atores sociais quando formaram movimentos para reivindicar o direito à moradia digna no centro da cidade e, principalmente, quando utilizaram a estratégia de ocupar edifícios vazios. Isso porque denunciam a falta de política de habitação de interesse social para as áreas centrais da cidade e expõem as contradições do setor imobiliário, que deixa os imóveis abandonados sem função social aguardando valorização.
Apesar da luta e mobilização empreendidas nos últimos 20 anos, pode-se afirmar que as inúmeras expressões da precariedade das moradias, o comprometimento de grande parcela da renda e a segregação social que sofrem seus moradores são fatores que fazem com que os cortiços sejam um fator para reprodução da pobreza e ampliação da desigualdade social.
[1] KOHARA, Luiz Tokuzi. Rendimentos obtidos na locação e sublocação de cortiços: estudo de casos na área central da cidade de São Paulo. Dissertação de Mestrado. São Paulo: EP USP, 1999.
[2] Pesquisa de Pós-Doutorado FAU/FAPESP de Luiz T. Kohara (em andamento).
[3] KOHARA, Luiz Tokuzi. Relação entre as condições da moradia e o desempenho escolar: estudo com crianças residentes em cortiços. Tese de doutorado. São Paulo: FAU-USP, 2009.
(*) Luiz Kohara é membro do Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos, engenheiro-urbanista e pós-doutorando FAU/FAPESP.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

CONSTRUTORAS MANTÊM R$ 209 BILHÕES DE TERRENOS EM ESTOQUE


A maior parte das incorporadoras que têm ações negociadas em bolsa está arrumando a casa depois dos anos de euforia que tomou conta do mercado imobiliário. Esses ajustes explicam, em parte, os números registrados no primeiro semestre. Entre eles, está o volume de lançamentos que despencou 38% e o de vendas que recuou 17% em relação ao mesmo período do ano passado. Com isso, a margem bruta do setor voltou para o piso histórico, de 22%, enquanto a margem Ebitda e a margem líquida chegaram ao menor patamar, de 8% e 2%, respectivamente.
Não é de se espantar que a dívida líquida sobre o patrimônio líquido tenha crescido 17 pontos percentuais comparativamente ao primeiro semestre do ano passado, chegando a 80%. No caso da Camargo Corrêa Desenvolvimento Imobiliário (CCDI), a relação chega a 170%. Já quando o assunto é banco de terrenos, o estoque acumulado do setor atingiu R$ 209,4 bilhões (incluindo permutas). Esses ativos podem ser vistos como uma forma de aumentar o caixa, em casos de extrema necessidade. De acordo fonte que preferiu não se identificar, Tenda, PDG e Rossi estão no grupo de incorporadores que tem vendido terrenos.
No entanto, a tendência é que as companhias mantenham os ativos dentro de casa. O motivo é que 51% do estoque do setor é de permutas (o pagamento é feito com parcela do imóvel). Segundo Flávio Conde, analista da CGD Securities, uma das explicações para as carteiras estarem tão recheadas é que elas começaram a ser montadas em um momento de otimismo. "A expectativa era que o volume de lançamentos em 2012 fosse maior.O descompasso se justifica pelo fato de que o estoque começa a ser formado com muita antecedência", diz. Para se ter ideia, hoje, a Eztec possui terreno suficiente para fazer os lançamentos dos próximos três anos.
Emílio Fugazza, diretor financeiro e de relações com investidores da companhia, diz que o momento é ideal para a compra de terrenos. "Nos últimos 12 meses, compramos R$ 2,2 bilhões em valor geral de vendas (VGV). É um número bastante considerável se pensarmos que temos, atualmente, R$ 4,4 bilhões", afirma. "Estamos com tranquilidade para comprar e temos recebido boas ofertas."
A região metropolitana de São Paulo apareceu no radar da Eztec depois que as grandes incorporadoras colocaram o pé no freio na busca por terrenos no local. "Sem falar que se tornou uma forma de diluir o risco que existe na capital paulista. Hoje, está difícil aprovar projetos a tempo", completa Fugazza.
De acordo com José Florêncio Rodrigues Neto, vice-presidente financeiro e diretor de relações com investidores da Cyrela, a incorporadora tem um processo contínuo de avaliação da viabilidade do banco de terrenos. "Também investimos entre R$ 400 milhões a R$ 500 milhões por ano na compra de novos terrenos. Não temos a estratégia de vender terreno para fazer caixa", diz. "Temos R$ 8 bilhões em projetos que aguardam aprovação em todo o Brasil e dependemos destas aprovações para dar continuidade neste volume de lançamentos", cita o executivo que garante que a demanda continua forte.
Rafael Menin, diretor executivo de produção da MRV, afirma que a incorporadora também está no grupo dos compradores. "Temos percebido a redução da concorrência em alguns locais; conseguimos aumentar a quantidade de permuta e estamos comprando melhor." A expectativa era de que, neste ano, conseguisse ficar no ponto médio da meta de vendas, em torno de R$ 5 bilhões. "Mas a atualização da faixa de preços do 'Minha Casa, Minha Vida' não aconteceu", afirma. "Continuamos crescendo, porém menos. Nos últimos anos, crescemos três dígitos, então, de fato, diminuímos o ritmo, mas não paramos de crescer", afirma, comparando com concorrentes que estão retraindo neste ano.

Manifestantes sem-teto bloqueiam Régis Bittencourt em Embu, SP


Centenas de pessoas atearam fogo a pneus e madeiras e ocupam as pistas.
Protesto gera lentidão também na pista sentido litoral do Rodoanel.



Do G1 SP
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Centenas de manifestantes do MTST bloquearam os dois sentidos da Régis Bittencourt na tarde desta terça-feira (Foto: Reprodução/TV Globo)Centenas de manifestantes do MTST bloquearam os dois sentidos da Régis Bittencourt na tarde desta terça-feira (Foto: Reprodução/TV Globo)
Centenas de manifestantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) bloquearam por volta das 17h10 desta terça-feira (4) os dois sentidos da Rodovia Régis Bittencourt, na altura do km 279, em Embu das Artes, região metropolitana deSão Paulo.
Às 18h40, a pista sentido São Paulo da Régis registrava 8 km de filas, de acordo com a Autopista Régis. No sentido Curitiba, o congestionamento se estendia por 6 km. De acordo com a concessionária, no horário, a Polícia Militar negociava com os manifestantes a liberação da via e os bombeiros estavam de prontidão para apagar o fogo provocado pelos manifestantes.
Bloqueio Régis (Foto: Arte/G1)Bloqueio Régis (Foto: Arte/G1)
A assessoria da CCR Rodoanel informou que, como reflexo do protesto, havia longo trecho de lentidão da pista sentido litoral, do km 16 ao 29, por volta das 18h40 desta terça.
De acordo com os organizadores, o ato ocorre devido à demora no cumprimento dos compromissos firmados pelo governo estadual em relação à ocupação da área denominada Novo Pinheirinho no município, além da concessão de auxílio-aluguel e desmembramento de terreno da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) para viabilizar projeto habitacional.
Por meio de nota, a Secretaria de Estado da Habitação e a CDHU informaram que a área de Embu das Artes, invadida em abril deste ano, pertence à CDHU e está destinada à construção de 1.300 moradias populares. Segundo o órgão, o projeto está pronto, mas “a CDHU está impedida de executá-lo em razão de decisão judicial que atendeu ao pedido do movimento ambientalista Pró-Parque Ecológico, Cultura e Lazer do Pirajussara”. A CDHU diz que já recorreu da decisão.
A Secretaria de Estado da Habitação e a Prefeitura de Embu informaram ainda que apresentaram aos líderes dos sem-teto proposta de atender 400 famílias com auxílio-moradia, o que teria sido recusado pelos manifestantes. “Não obstante, a Secretaria da Habitação já assegurou aos familiares quatro áreas para a construção de moradias: duas em Taboão da Serra e mais duas em Itapecerica da Serra”, completou a nota.
Os integrantes do MTST exigem ainda o início imediato das obras do empreendimento João Candido, em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, que deverá atender 896 famílias do MTST.
Trânsito em SP
A manifestação não provocava reflexos no trânsito da capital paulista por volta das 18h15. A cidade de São Paulo registrava 96 km de vias congestionadas às 18h desta terça-feira (4). De acordo com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), a Zona Sul era a pior região da capital paulista, com 29 km de filas. No horário, as marginais Pinheiros e Tietê eram as piores vias, com 5 km e 7,5 km de lentidão.
(Para mais informações sobre o trânsito em São Paulo, você pode acompanhar no G1 a página do Radar São Paulo, com câmeras ao vivo e tabela com condições das principais vias.)
Manifestantes usam pneus e madeira incendiados para fechar pista (Foto: Reprodução/TV Globo)Manifestantes usam pneus e madeira incendiados para fechar pista (Foto: Reprodução/TV Globo)http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2012/09/manifestantes-do-mtst-bloqueiam-regis-bittencourt-em-embu-sp.html

Sem-teto fecha Régis e Rodoanel por 3 horas


Com barricadas de fogo, manifestantes interditam as rodovias e tumultuam a volta para casa na hora do rush

Objetivo era exigir do governo do Estado a construção de casas; polícia negocia, mas não tenta liberar vias
DE SÃO PAULO
DO “AGORA”
Com barricadas formadas por pneus e madeira incendiados, um grupo de sem-teto fechou ontem por quase três horas os dois sentidos da rodovia Régis Bittencourt, principal ligação de São Paulo com a região Sul do país.
A interdição impactou a alça de acesso ao trecho sul do Rodoanel, que, em razão disso, também teve o tráfego parado pelo mesmo período.
O protesto, iniciado por volta das 17h, horário do rush, tumultuou a volta para casa de paulistanos e moradores de cidades do entorno como Barueri, Cotia, Embu das Artes e Taboão da Serra.
A manifestação ocorreu no km 279, em Embu das Artes, próximo ao entroncamento da Régis com o Rodoanel. O acúmulo de veículos acabou provocando lentidão também na rodovia Castello Branco.
Na Régis, o congestionamento no pico atingiu 11 km no sentido de São Paulo e 6 km em direção a Curitiba. No Rodoanel, a lentidão chegou a 18 km no sentido do litoral.
Pessoas que trabalham na capital e moram em condomínios como Alphaville (Barueri) e Granja Viana (Cotia) levaram três horas para fazer um trajeto que é possível completar em menos de uma.
O protesto foi organizado pelo MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), que disse ter reunido 1.500 manifestantes. Para a Polícia Militar, não passaram de 200.
A PM -incluindo a tropa de choque- e a Polícia Rodoviária Federal foram ao local para desimpedir a via, mas não houve nenhum confronto, nem tentativa de retirar os sem-teto com o uso da força.
Segundo a PM, os policiais não podiam retirar os manifestantes por causa do fogo. Já os bombeiros disseram que estavam impedidos de apagar as chamas porque os sem-teto ficaram posicionados atrás das barricadas.
Os manifestantes pediam a construção de casas populares em um terreno no Parque Pirajussara, em Embu das Artes. O protesto só terminou perto das 19h45, quando representantes do Estado negociaram uma reunião com a Secretaria da Habitação na próxima terça-feira.
PINHEIRINHO
Segundo Guilherme Boulos, coordenador do MTST, o governo havia se comprometido com o projeto de construir casas populares no terreno do Jardim Pirajussara, mas até ontem não havia enviado um projeto de lei para a Assembleia Legislativa.
De acordo com ele, o terreno de 450 mil metros quadrados pertence à CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) e poderia abrigar 1.500 famílias.
Invadido em março, o terreno abriga cerca de 2.800 famílias, segundo o MTST. O local é chamado pelo movimento de "Pinheirinho de Embu", pois algumas famílias moravam no Pinheirinho, área de São José dos Campos (a 97 km de São Paulo) palco de uma controversa reintegração de posse em janeiro deste ano.
A CDHU informou que a área é destinada à construção de 1.300 moradias populares, mas que o projeto está suspenso devido a uma ação judicial movida pelo movimento ambientalista Pró-Parque Ecológico, Cultura e Lazer do Pirajussara. A companhia informou que já acionou a Justiça para tentar liberar a obra.
A CDHU disse ainda estar "em contato com as famílias para ajudá-las a solucionar o problema" e que "todos os pontos apresentados pelos sem-teto já estão sendo atendidos ou em negociação".
Entre as propostas do governo está a concessão de auxílio-moradia para 400 famílias, que, segundo a pasta, foi rejeitada pelos sem-teto.
Ainda segundo a CDHU, a secretaria assegurou quatro áreas para a construção de moradias na Grande São Paulo -duas em Taboão e duas em Itapecerica da Serra.