quarta-feira, 18 de abril de 2012



Caminhe com a Ocupação 20 de Novembro



DF: 200 sem-teto ocupam prédio da Caixa Econômica 

17 de abril de 2012

Manifestantes ocuparam o prédio por volta das 10h. Foto: Antonio Cruz/ABr /Agência Brasil
Manifestantes ocuparam o prédio por volta das 10h
Foto: Antonio Cruz/ABr /Agência Brasil
Cerca de 200 pessoas do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto de São Paulo ocuparam, por volta das 10h desta terça-feira, o prédio da Caixa Econômica Federal em Brasília, de acordo com estimativas da Polícia Militar do Distrito Federal (PM-DF).
Os manifestantes reivindicam mais verbas para a construção de moradias no âmbito do Minha Casa, Minha Vida, além da revisão do limite de renda para financiamento previsto no programa. Segundo o movimento, a regra é que pessoas que recebam até três salários-mínimos possam se inscrever, mas a Caixa não atualizou o limite de R$ 1,6 mil para R$ 1,8 mil depois do reajuste do valor do salário mínimo.
A assessoria de imprensa da Caixa informou que 16 manifestantes se reuniram, por volta das 13h, com o vice-presidente da instituição, José Urbano Duarte, para negociar as reivindicações. O presidente da Caixa, Jorge Hereda, também participava das discussões por meio de videoconferência.
Agência Brasil
http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI5724585-EI8139,00-DF+semteto+ocupam+predio+da+Caixa+Economica.html

terça-feira, 17 de abril de 2012

Famílias estariam sendo coagidas a deixar suas casas sem receber indenização

Moradores estariam sendo obrigados a deixar área onde será construído Corredor Ecológico do Mindu e denunciam que estão sendo obrigados a assinar documentos aceitando serem transferidos para o conjunto que fica na Zona Norte de Manaus, sem o pagamento de indenizações

    Residentes no Novo Aleixo e São José dos Campos, em casas erguidas às margens do Mindu, dizem que vêm sendo obrigados a assinar documentos aceitando transferência para conjunto Buritis, na Zona Norte
    Residentes no Novo Aleixo e São José dos Campos, em casas erguidas às margens do Mindu, dizem que vêm sendo obrigados a assinar documentos aceitando transferência para conjunto Buritis, na Zona Norte (Clóvis Miranda )
    Moradores dos bairros Novo Aleixo e São José dos Campos, que moram às margens do igarapé do Mindu, dizem  estar sendo coagidos a sair da área para que seja realizada a construção do Corredor Ecológico do Mindu.
    Eles denunciam que estão sendo obrigados a assinar documentos aceitando serem transferidos para o conjunto Buritis, que fica localizado na Zona Norte de Manaus, sem o pagamento de indenizações.
    “Foi o pessoal da Unidade Executora de Projetos da Seminf (UEP). Eles disseram que ou a gente saía  daqui ou eles passavam com o trator por cima das casas. Primeiro, eles queriam que a gente fosse para o conjunto Buritis. Deram a opção de ficarmos  num local ou em outro ou sermos indenizados se a gente arranjasse casas por aqui. Mas agora, eles disseram que a gente não tem nem direito à indenização. Ou saímos ou vamos para o aluguel. Eles dizem que pagam por três meses, mas depois fica por conta da gente.  Devido a essas ameaças que eles fizeram, nós fomos à Defensoria Pública”, disse a dona de casa Claudimara Gentil.
    Moradora da da rua Rio Branco, Claudimara contou que após terem denunciado o caso à Defensoria Pública, ela e a irmã passaram a ser ameaçadas de violência física.
    “Era um assistente social da parte deles, de nome César, que veio com ameaças. Ele fez a cabeça dos outros moradores que queriam bater na gente porque fizemos a denúncia na Defensoria. Na última reunião não fomos convidadas, mas fomos lá mesmo assim. Lá, disseram que ou a gente saía ou ficava esperando as máquinas”, informou Claudimara.
    REINTEGRAÇÃO
    Diante das denúncias, a  Defensoria Pública do Amazonas vai realizar amanhã, a partir das 9h, uma audiência pública sobre a reintegração de posse  dos moradores dos bairros Novo Aleixo e São José dos Campos.
    O defensor público Carlos Alberto Almeida Filho quer discutir a situação com todas as partes.
    “Está acontecendo um conflito de interesses. O  município  precisa cuidar do meio ambiente. A população  precisa de moradia, quer sair, mas tem direito de sair com dignidade. Por isso vamos realizar essa audiência pública para ouvir todas as partes e tentarmos uma medida extra-judicial, a fim de que todos os lados sejam beneficiados. A Defensoria não quer manter a população num local de risco, mas quer que a prefeitura garanta que receberão todos seus direitos”, disse o procurador.
    Seminf nega ameaças e ida para ZN
    Por meio da assessoria de imprensa, a Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminf) negou que  moradores dos bairros Novo Aleixo e São José dos Campos estejam sendo coagidos a aceitar a transferência para o conjunto Buritis. A assessoria alega que o conjunto residencial  Buritis I já foi totalmente entregue, no qual já habitam 603 famílias.
    O projeto do Buritis II tem previsão para ser entregue apenas em 2013, por isso não seria possível levar as famílias dos respectivos bairros para o residencial.
    A assessoria completa dizendo que os técnicos da UEP são, em sua maioria, assistentes sociais que orientam os moradores quanto aos prazos dos projetos. O programa de requalificação urbana, baseado na retirada de 3 mil famílias do entorno do igarapé do Mindu, visa a reurbanização e recuperação do corredor ecológico do igarapé, que é protegido por lei.
    Conforme a assessoria da Seminf, o  programa não trabalha com indenização, mas com reassentamento das famílias, que devem receber um valor bônus tendo em vista o valor avaliado de seu  imóvel.
    Saiba mais
    Título
    A costureira Marlene Gonçalves de Lima confirma a denuncia.“ É verdade.Eles quiseram que eu assinasse porque se não eles demoliam a minha casa.Eles nem queriam dar a indenização e queriam me dar uma casa só, para três familias”, reclamou.
    Marlene disse que a sua casa, hoje, está avaliada em pelo menos R$50 mil.“A gente entende que tem que desocupar a área.Mas, para o Buritis não.Lá as crianças não tem escola, não tem água,todo dia matam um”, disse a moradora da Rua Maçarico, São José dos Campos.

    Moradia popular no lixo: imagens de um Brasil que precisamos encarar

    Recebi ontem estas fotos de um leitor que, passando por uma estrada no Maranhão, deparou-se com este panorama. Trata-se de um conjunto habitacional do programa Minha Casa Minha Vida, construído ao lado de um lixão, na cidade de Santa Luzia, no interior do Estado, que, por sinal, é um dos que mais teve projetos construídos pelo programa. A lógica de produção de casas no terreno mais barato possível leva esses empreendimentos para as terras mais desvalorizadas e, em muitos casos, perto de áreas contaminadas como esta. Com certeza, esse não é o único caso.
    As imagens falam por si, mas não custa lembrar: o processo de produção de habitação que corre a todo vapor em nosso país está completamente desvinculado de um processo de qualificação da produção e gestão das cidades. Falta política urbana e falta gestão urbana. Lixões como este não deveriam mais existir, muito menos conjuntos habitacionais no meio do nada, junto a áreas contaminadas. De um lado, temos municípios precários, com pouquíssima ou nula capacidade de planejamento e gestão, e, de outro, um programa federal de produção de moradias que em nada ajuda a mudar essa situação.
    Estas são, no fim das contas, imagens da precariedade da política urbana no Brasil em um momento em que temos recursos para enfrentar o problema do déficit de urbanidade.
    PS: enviei as fotos para a Secretaria de Habitação do Ministério das Cidades e para a Caixa Econômica Federal e ambos responderam que vão apurar o caso.
    Texto originalmente publicado no Yahoo! Blogs.

    terça-feira, 10 de abril de 2012

    RJ: AS CASAS VÃO CAIR

     Por Andrea Dip

    No morro da Providência, casas continuam sendo marcadas e demolidas para a construção de um teleférico para turistas destinado à Copa do Mundo. Com aluguel social de 400 reais, as famílias que deixam suas casas não encontram onde morar. Por isso, muitas ainda resistem
    A casa de Neusimar, trabalhadora autônoma que mora com a família de sete pessoas no Morro da Providência, no Rio de janeiro, está marcada com a sigla SMH (Secretaria Municipal de Habitação). Isso significa que ela vai cair. Todas as casas e prédios vizinhos já foram demolidos porque os moradores aceitaram o aluguel social oferecido pela prefeitura, no valor de 400 reais.
    O morro vai sediar o projeto Porto Maravilha, com teleférico e plano inclinado para os turistas que virão para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 – como a Pública mostrou em janeiro. Por isso a comunidade tem sofrido remoções compulsórias.
    Neusimar resiste porque não quer sair da casa onde sua mãe nasceu e cresceu com toda a família para um futuro incerto: “Onde vamos achar uma casa para alugar por  400 reais? Quem vai querer alugar uma casa para mim? Estou desempregada, minha mãe é doente, temos uma família grande. Não estamos aqui por teimosia, mas não vamos sair para ficar como as pessoas que a gente vê sair e ficar na rua porque não conseguem alugar nada” explica. Ela conta que sente a sua situação mais complicada a cada dia: “Está tudo no chão ao redor da minha casa, afetou a estrutura, agora estamos mesmo em situação de risco”.
    Histórias como a dela são contadas no vídeo Morro da Providência, do coletivo #Entre Sem Bater, formado por alunos da Escola Popular de Comunicação Crítica (Espocc) – projeto do Observatório de Favelas que oferece a jovens e adultos, moradores de espaços populares do Rio de Janeiro, acesso a diferentes linguagens, conceitos e técnicas na área da comunicação. O mini documentário foi feito como um trabalho de conclusão de curso, mas o coletivo cresceu e os envolvidos continuam a pesquisar e documentar as remoções no Morro da Providência e outros lugares.
    Além das remoções, o vídeo mostra os preparativos para a demolição da quadra do morro, onde eram feitos campeonatos de futebol e os ensaios da escola de samba da comunidade. Leo Dias, fotógrafo e integrante do Entre Sem Bater, conta que logo após a conclusão do filme a quadra foi abaixo e deu lugar à construção da torre do teleférico.
    O blog Copa Pública é uma experiência de jornalismo cidadão que mostra como a população brasileira tem sido afetada pelos preparativos para a Copa de 2014 – e como está se organizando para não ficar de fora.

    sábado, 7 de abril de 2012

    Comunicado à Imprensa e à sociedade – Dia 03/04/2012.

    A Comunidade Dandara acampou na porta da Prefeitura de Belo Horizonte. É LUTA PELA DESAPROPRIAÇÃO DE DANDARA.

    CONFIRA, ABAIXO E  MANIFESTO, EM ANEXO.

    Na madrugada de hoje, dia 03 de abril de 2012, terça-feira, a OCUPAÇÃO-COMUNIDADE DANDARA acampou na porta da Prefeitura de Belo Horizonte, na Av. Afonso Pena. Dandara está mobilizada e em luta pela desapropriação do terreno ocupado por 1.000 famílias de Dandara.
    De madrugada, em vários ônibus, automóveis e em um grande número de motos, o povo de Dandara foi para o centro de Belo Horizonte manifestar na parte da manhã, na frente da PBH e a partir das 14 horas acompanhará mais uma Audiência Judicial na 6ª Vara de Fazenda Pública Estadual, sob a presidência do juiz Dr. Manoel dos Reis Moraes. Participa também a Ocupação-comunidade Zilah Sposito-Helena Greco.

    RECORDANDO...

    Em 9 de abril de 2009, na madrugada de uma quinta-feira da Semana Santa, a Comunidade Dandara foi formada a partir da ocupação de um terreno particular que não cumpria sua função social – 315 mil metros2.
    Exigimos que o prefeito de Belo Horizonte, sr. Márcio Lacerda, ou o Governador de Minas, sr. Antonio Anastasia, desaproprie o território de Dandara para fins de habitação popular do povo que lá ocupa o terreno há quase 3 anos.Desapropriação é compra forçada. Essa é a forma jurídica e política mais justa para se resolver de forma justa o grave conflito social que envolve as mil famílias de Dandara – cerca de 5 mil pessoas. A Presidenta Dilma já disse, em conversa com Dom Joaquim Mol e frei Gilvander, que se o prefeito de BH ou o governador desapropriar Dandara, o Governo Federal colocará dinheiro para urbanizar Dandara, terminar de construir as casas e fazer o que precisa ser feito para que Dandara seja de fato reconhecida como um bairro.
    Na Audiência Judicial de hoje, às 14 horas, dia 03 de abril de 2012, a Comunidade Dandara, mobilizada e em luta, espera sensibilizar o poder judiciário para que este possa reconhecer a importância de Dandara como um bom exemplo de reforma urbana popular para a construção de uma sociedade justa e igualitária.
    Não podemos esquecer que a Construtora Modelo reivindica a reintegração de posse no terreno ocupado por Dandara, mas deve ao município de BH mais de R$2.200.000,00 em IPTU, nunca pagou nem um centavo pelo terreno. É público e notório que o terreno estava abandonado há várias décadas. Era uma propriedade que não cumpria sua função social. Logo, segundo a Constituição de 1988 a Construtora Modelo nunca exerceu posse sobre o terreno e por isso não deve ser reintegrada.
    Se em BH há um déficit habitacional acima de 70 mil casas é óbvio que o prefeito tem o dever de desapropriar Dandara e assim regularizar a situação das mil famílias que lá vivem há quase 3 anos. Dandara não pode se transformar em um Pinheirinho 2. Dandara é de luta e jamais aceitará ser despejada. O povo tem necessidade, sabe dos seus direitos e lutará até a vitória.

    Obs. 1: A Audiência Judicial será na 6ª Vara Pública de Fazenda Estadual, na Rua Gonçalves Dias, 1260, Funcionários, ao lado da Praça da Liberdade.

    Assina essa RELEASE-NOTA:
    Brigadas Populares, Coordenação Geral de Dandara e Rede de Apoio a Dandara.

    Contatos:
    Rosário, cel. 31 9241 9092 - Joviano, cel. 31 8815 4120
    Rosa, cel. 31 9287 1531 - Frei Gilvander, cel. 31 9296 3040.

    quarta-feira, 4 de abril de 2012

    Mobilidade urbana: uma questão de engenharia ou uma questão política?

    Mobilidade urbana: uma questão de engenharia ou uma questão política?



    Os famigerados congestionamentos são um dos principais problemas das grandes cidades brasileiras, dentre tantos que temos. É comum os telejornais da manhã iniciarem, e às vezes terminarem, a partir de um panorama do trânsito por diferentes pontos da cidade. É como se a mídia tivesse o dever de informar ao cidadão “motorizado” os pontos “estrangulados” e onde os carros fluem com tranquilidade. 

    Quando se questionam os motivos dos congestionamentos, a resposta é simples (simplista): ausência de planejamento por parte do poder público. A prefeitura, governo estadual ou federal não investiram em infraestrutura suficiente para a demanda crescente de automóveis. Nesse raciocínio, o que fazer? Ora, investir em infraestrutura e recompensar o tempo perdido a partir de ampliação de vias, construção de pontes, viadutos etc. 

    É a solução que perpassa pelo imaginário popular e difundido/ reforçado pela grande mídia. Nessa perspectiva, a locomoção pela cidade por meio de automóveis individuais aparece como algo natural. Como é natural a ideia de felicidade estar relacionada necessariamente a aquisição de um novo modelo de carro. Se a cidade não fosse uma construção coletiva e aquisição de um automóvel fosse uma mera questão subjetiva, encerraria a discussão por aqui! Porém, não é bem assim...

    Quando se parte da ideia de que a mobilidade urbana é uma questão de engenharia, opta-se (politicamente) pela continuidade da cidade dos carros. A indústria automobilística e as grandes empreiteiras agradecem. A engenharia urbana, portanto, ao mesmo tempo em que garante a viabilidade da indústria de carros individuais, ampliando vias, ela em si é um grande negócio (e sempre são as mesmas empresas que prestam serviço para as prefeituras, será por quê?). 

    Nesse contexto, locomover-se pela cidade como pedestre, ciclista ou usuário de transporte público é um grande sacrifício. E o mais perverso é que a maioria da população capixaba, brasileira, utiliza de tais meios para ir ao trabalho, à escola, à casa de parentes ou amigos etc. Por isso, a questão da mobilidade urbana é, antes de tudo, política. As soluções propostas pelo poder público, de um modo geral, embora venham carregadas de um discurso do “bem comum”, elas beneficiam uma parcela da população e determinados setores privados, como os supracitados. 

    Thalismar M. Gonçalves 
    Prof. de Geografia da Rede Estadual de Ensino 
    AGB-Vitória 

    Os Megaeventos Esportivos e o Direito à Cidade

    Os Megaeventos Esportivos e o Direito à Cidade
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    Os Megaeventos Esportivos e o Direito à Cidade: uma agenda para o Conselho das Cidades
    Orlando Alves dos Santos Junior
    Professor do IPPUR/UFRJ
    Membro do Conselho das Cidades (ANPUR – segmento entidades acadêmicas e profissionais)
    Relator Nacional do Direito à Cidade – Plataforma Dhesca
    Integrante da Rede Observatório das Metrópoles

    Exposição proferida no Conselho das Cidades, no dia 07 de dezembro de 2011, em Brasília.

    Essa exposição, dividida em cinco pontos centrais, está baseada fundamentalmente em dois subsídios:

    Primeiro, a pesquisa nacional desenvolvida pela Rede Observatório das Metrópoles, denominada “Metropolização e Megaeventos Esportivos: os impactos da Copa 2014 e Olimpíadas 2016”, financiada pela FINEP, que tem por objetivo analisar os impactos das intervenções urbanas em todas as cidades-sedes vinculadas a esses dois eventos. 

    Segundo, a experiência da Missão da Relatoria do Direito à Cidade, ligada a plataforma brasileira de direitos humanos, econômicos, sociais, culturais e ambientais. Na condição de relator nacional, realizamos essa missão no primeiro semestre de 2011, em torno das denúncias de remoções que estavam e continuam acontecendo no Rio de Janeiro, em decorrência das intervenções vinculadas à Copa do Mundo e das Olimpíadas. Durante a missão, foram visitadas diversas comunidades e realizadas diversas audiências em torno dos processos de remoções relacionadas às intervenções urbanas na cidade do Rio de Janeiro, vinculadas à Copa do Mundo 2014 e às Olimpíadas 2016.

    O objetivo dessa exposição é apresentar algumas reflexões sobre o processo de intervenção urbana vinculado à Copa do Mundo, tendo em vista o seu caráter nacional (portanto, apesar da sua importância as Olimpíadas não serão objeto da minha intervenção), e levantar temas e questões visando à constituição de uma agenda de trabalho para o Conselho das Cidades.

    Em primeiro lugar, é preciso destacar que o Conselho das Cidades está fazendo essa discussão tardiamente, tendo em vista que os projetos de intervenção nas cidades-sedes da Copa estão definidos e muitas das intervenções estão em curso. No entanto, apesar do atraso, essa discussão é estratégica e ainda há tempo de intervir, tendo em vista que grande parte dos projetos ainda não estão detalhados, a maior parte dos editais ainda não foi lançado, e muitas obras ainda não começaram.

    Cabe chamar atenção que o projeto da Copa se relaciona diretamente com a política urbana em, pelo menos, três aspectos: (i) mobilidade urbana – ou seja, as intervenções vinculadas à mobilidade urbana; (ii) planejamento e gestão do solo – relacionado à re-estruturação urbana e os processos de valorização imobiliária decorrente das intervenções urbanas; (iii) moradia – sobretudo no que se refere às remoções decorrentes das intervenções urbana. Em outras palavras, o projeto da Copa é do interesse de todo o Conselho das Cidades e exige uma discussão coletiva que envolva o conjunto dos comitês técnicos, ou pelo menos os comitês de mobilidade, planejamento e gestão do uso do solo e habitação. 

    Por fim, apesar de não ser objeto da minha reflexão, também é fundamental sublinhar a importância da temática do esporte, tendo em vista que 25% dos recursos estão sendo investidos na construção ou reforma dos estádios – cabe lembrar que, excetuando o estádio Beira Rio, todos os demais estádios estão sendo reformados ou construídos utilizando financiamento público ligado ao BNDES. E que grande parte desses estádios estão sendo reformados através de contrato de parceria público-privada. Tudo indica que estamos diante da reconfiguração das práticas vinculadas aos esportes com estádios menores, elitização do público, estágios multifuncionais para recepção de megaeventos, e legitimação simbólica da reconfiguração urbana.

    A reflexão em torno dos impactos dos megaeventos parte da hipótese geral de emergência de um novo padrão de governança urbana nas metrópoles brasileiras, caracterizado pelo que a literatura vem denominando empreendedorismo empresarial neoliberal. De uma forma esquemática, pode-se dizer que nesse padrão de governança o poder público assume como responsabilidade central a criação de um ambiente favorável aos negócios, no qual os grandes empreendimentos, os megaeventos e o marketing urbano teriam uma importância central nas estratégias de inserção econômica global, e na qual as parcerias entre os setores público e privado (PPPs) seriam uma das principais estratégias de promoção de serviços urbanos. Essa governança empreendedorista empresarial seria sustentada pela conformação de uma nova coalizão político-social – expressando uma aliança entre agentes econômicos e políticos e frações de classes sociais específicas, dependendo do contexto social de cada cidade. A noção de governança urbana aqui se refere às formas de interação entre governo e sociedade, ou mais precisamente, entre governo, mercado e sociedade.

    Buscando contribuir para uma compreensão crítica das transformações urbanas em curso, a exposição está organizada em quatro pontos. 

    1. O projeto da Copa e o Processo de Reestruturação Urbana das Metrópoles Brasileiras

    Os investimentos previstos para a Copa do Mundo de 2014 indicam que estamos diante de intervenções urbanas de grande magnitude, com grande impacto sobre a dinâmica urbana de todas as cidades-sedes. De fato, a maior parte dos recursos está alocada em mobilidade urbana, que representa cerca de 49% do total de investimentos. Do restante dos investimentos, aproximadamente 25% estão alocados na ampliação ou reforma da infraestrutura dos aeroportos e portos, e outros 25% na reforma ou construção dos estádios de futebol. Por fim, pouco mais de 1% dos investimentos está alocado em turismo e segurança. 

    Em síntese, a importância da Copa do Mundo parece estar menos ligada à realização de um evento em si mesmo (a Copa, as Olimpíadas), e mais ao processo de reestruturação da dinâmica urbana nas metrópoles brasileiras, legitimada e possibilitada pela realização desses megaeventos.


    Sob o ponto de vista dos investimentos, pode-se dizer que a realização da Copa do Mundo 2014 (bem como das Olimpíadas 2016) tem como agente econômico protagonista o poder público, responsável ou pelos investimentos diretos ou pelo financiamento das intervenções vinculadas a esses megaeventos.

    Tomando como referência a Copa do Mundo de Futebol, estão previstos pouco mais de R$ 17 bilhões entre financiamentos e investimentos, só do governo federal. Somando os recursos dos governos federal, estaduais e municipais, estão previstos mais de R$ 25 bilhões. Nesse ponto, cabe registrar que a Caixa Econômica Federal (CEF) e o Banco Nacional para o Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) são as duas principais instituições de financiamento do projeto (com aportes de recursos da ordem de 6,6 e 5 bilhões, respectivamente). 

    Em relação às cidades beneficiadas pelos investimentos, destaca-se o fato das cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro receberem a maior parte dos recursos previstos no projeto. Juntos, essas duas cidades devem receber mais que R$ 8,6 bilhões. 

    Em seguida, em termos de volume de investimentos, destacam-se as cidades de Manaus (2,8 bilhões) e Belo Horizonte (2,5 bilhões).

    As quatro cidades-sedes do Nordeste – Salvador, Recife, Fortaleza e Natal - recebem juntas 23% do total dos investimentos previstos. 

    Cabe registrar que, excetuando-se Curitiba, todas as demais cidades recebem investimentos superiores a 1 bilhão de reais.

    Como pode ser observado, há uma relativa relação entre a divisão dos investimentos e a distribuição da população por região do país , com as regiões Norte e Centro-Oeste recebendo proporcionalmente mais recursos em relação a sua população e a Região Sul menos.


    Percebe-se também que os governos estaduais e municipais, sem exceção, têm percebido a realização da Copa do Mundo como uma oportunidade de alavancar o desenvolvimento dos seus estados e municípios, reposicionando-os regionalmente ou nacionalmente, do ponto de vista do lugar atualmente ocupado na dinâmica econômica.

    2. A Promoção de Políticas Redistributivas – o legado social – e a nova coalização empreendedorista empresarial

    A análise dos projetos e das políticas públicas urbanas vinculadas a esses megaeventos esportivos, sobretudo aquelas vinculadas aos programas federais, parecem ser marcadas por componentes redistributivos, ou seja, parecem estar associadas aos investimentos em políticas, equipamentos e serviços urbanos - habitação, saneamento, saúde e educação – nas cidades, parte dos quais destinados as classes populares, o que tem sido identificado como legado social da Copa do Mundo. 

    Aqui é preciso considerar que o grau em que tais políticas são desenvolvidas é variável em cada localidade e parece estar fortemente ligado à natureza da coalizão empreendedorista empresarial que emerge em cada cidade brasileira. 

    No quadro das grandes desigualdades sociais que marcam o país, pode-se colocar como hipótese a necessidade desses investimentos em políticas urbanas para as classes populares como requisito para a legitimação do Estado enquanto poder público, e também da coalizão que sustenta essa nova governança urbana empreendedorista empresarial. De fato, não é raro observar nas grandes cidades brasileiras, que ao lado do intenso processo de remoção de comunidades compostas por famílias de baixa renda nas áreas revitalizadas, existem investimentos significativos na urbanização e regularização de favelas e assentamentos precários, sobretudo através do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento. Também se observam importantes investimentos voltados à população de baixa renda, como a regularização fundiária de ocupações de imóveis públicos e o financiamento de empreendimentos habitacionais geridos pelos movimentos sociais de moradia (Programa Minha Casa Minha Vida – PMCMV/Entidades). 

    No entanto, seja qual for o caráter redistributivo dos investimentos, o projeto de cidade que está em curso parece aprofundar ou, pelo menos, corre o risco de aprofundar, o padrão de urbanização excludente que caracteriza a ordem urbana brasileira.

    São diversos os indícios de especulação imobiliária e supervalorização das áreas urbanas que estão sendo objeto de intervenção por parte do poder público, em especial em torno dos projetos de mobilidade urbana. De fato, tudo leva a crer que os investimentos em mobilidade são os principais investimentos de reestruturação das cidades, incidindo sobre a sua dinâmica urbana na perspectiva da (re)valorização de certas áreas e na viabilização dos investimentos na expansão urbana das cidades. O setor imobiliário, dependo da cidade e da área de intervenção, trabalha com índices de valorização imobiliária que variam entre 100% a 1.000% (por exemplo, em Fortaleza).

    Aqui, cabe levantar a importância da aplicação de instrumentos de captura da mais valia fundiária associada à valorização imobiliárias dessas áreas. Os instrumentos previstos no Estatuto da Cidade e nos Planos Diretores – em especial a instituição e demarcação de Zeis em vazios urbanos como a outorga onerosa do direito de construir - poderiam estar sendo aplicados tanto para conter a especulação imobiliária como para capturar parte da valorização imobiliária decorrente dos investimentos urbanos.

    Cabe ao Conselho das Cidades monitorar a aplicação, pelas cidades-sedes da Copa do Mundo, dos instrumentos previstos nos planos diretores, recomendando a aplicação dos mesmos quando for o caso.

    3. Uma nova rodada de mercantilização da cidade acionando processos de acumulação por espoliação: a difusão das cidades neoliberais no contexto brasileiro.

    Mesmo que seja possível constatar intervenções urbanas destinadas à ampliação do acesso das classes populares aos serviços e equipamentos urbanos, são claros os indícios de que se está diante de uma nova rodada de mercantilização da cidade, caracterizada pela transformação de espaços, equipamentos e serviços urbanos desvalorizados – e, portanto, parcialmente ou totalmente desmercantilizados – em mercadoria, ou seja, em ativos inseridos nos circuitos de valorização do capital. Esse processo ocorre, seja pela transferência forçada de ativos sob o controle das classes populares para setores do capital imobiliário ou de serviços urbanos, seja pela criação de novos serviços e equipamentos urbanos que serão geridos pela iniciativa privada (por exemplo, na área do transporte, esporte e lazer). Em outras palavras, estar-se-ia diante de uma nova rodada de mercantilização e elitização da cidade, onde certas áreas passam a se constituir em mercadoria destinada as classes médias e altas que têm poder aquisitivo para pagar pelas habitações e serviços que serão oferecidos. 

    De fato, em quase todas as cidades onde estão ocorrendo intervenções urbanas vinculadas à Copa do Mundo estão ocorrendo ou estão previstas remoções. Efetivamente essas remoções representam a transferência de ativos sob a posse de grupos e classes populares (muitas das quais morando em áreas com situação fundiária irregular) para outros agentes econômicos e sociais que vão comprar e se apropriar desses ativos valorizados. Em geral, essas remoções têm ocorrido desrespeitando-se os direitos coletivos das famílias e comunidades moradoras das áreas de intervenção. 

    Considerando-se as configurações sociais das diferentes comunidades afetadas pelas intervenções urbanas, pode-se constatar remoções, ou seja, processos de transferência de ativos sob o controle das classes populares, no qual parcela da população (por exemplo, em situação de vulnerabilidade social e vivendo em uma habitação com alto grau de precariedade) poderia estar sendo beneficiada com a aquisição de um imóvel regularizado e em bom estado, mesmo em uma área distante; enquanto que outra parcela da mesma comunidade (com sua inserção social mais ou menos estabilizada em razão de vínculos estabelecidos com redes sociais e de trabalho formais ou informais) poderia estar sendo vulnerabilizada pela sua exclusão da área na qual organiza sua reprodução social. Dito de outra forma, o direito à moradia pode estar ao mesmo tempo sendo negado e promovido, desde que permita e não ameace o processo de mercantilização da cidade.

    Nesse plano, é preciso levar em consideração que os despejos e as remoções ocorrem sob a legitimidade conferida pelo Poder Judiciário (que permite e determina as remoções) e da ordem pública, que operam no conflito entre, de um lado, os processos de mercantilização da cidade – promovido pelo poder público e pela coalizão de forças que sustenta a nova governança empreendedorista empresarial, acionando o discurso do interesse público em torno do desenvolvimento econômico e social – e, de outro, os processos de desmercantilização da cidade e de promoção do direito à moradia, encarnado pelos movimentos sociais organizados em torno da reforma urbana e do direito à cidade. Mas ambos os processos e discursos se expressam em políticas públicas e aparatos institucionais no interior do aparelho de Estado, apesar da lógica mercantil ser a dominante e hegemônica. Daí resulta a dificuldade de enfrentamento desse projeto.

    Nesse ponto, cabe levantar a importância das intervenções urbanas nas cidades-sedes respeitarem o direito à moradia estabelecido na Constituição Brasileira e no Estatuto das Cidades, garantindo a permanência das famílias nas áreas por elas ocupadas, ou, em caso de absoluta necessidade de sua transferência para outras moradias, garantindo-se a discussão com as comunidades do projeto de reassentamento em área próxima, e o acesso à moradia digna através do procedimento chave-por-chave, ou seja, a saída das família para outro imóvel já construído e pronto para ser ocupado.

    Cabe ao Conselho das Cidades definir critérios que devam ser cumpridos pelos governos estaduais e municipais como requisito para o recebimento de recursos do governo federal. Sem o respeito ao direito à moradia não pode haver repasses de recursos do governo federal.

    4. A lógica da exceção na intervenção do Estado

    Por fim, as intervenções em curso revelam a incapacidade do Estado em se pautar por critérios universalistas, centrados no objetivo da inclusão social dos diferentes grupos sociais à cidade, e a crescente adoção de um padrão de intervenção centrado na exceção, focado em certas áreas da cidade com capacidade de atração de investimentos, subordinando as políticas, implementadas de forma discricionária, aos interesses de grandes grupos econômicos e financeiros que comandam a nova coalizão empreendedorista empresarial. Os projetos determinam o que pode e o que não pode ser realizado (Copa do Mundo de Futebol e Olimpíadas aqui, um porto ou um teleférico acolá), as comunidades que podem permanecer e aquelas que precisam ser removidas, legitimados, em primeiro lugar, pelo discurso do desenvolvimento, e de forma subsidiária, pelo discurso da ordem, da ilegalidade fundiária ou do risco ambiental. Se existem direitos coletivos e sociais estabelecidos no Estatuto da Cidade, relativos à moradia e à participação nos projetos urbanos, estes serão aplicados de forma diferenciada segundo o grupo social envolvido em um determinado conflito. 

    No caso da Copa do Mundo de Futebol e das Olimpíadas, esse padrão de intervenção pela exceção fica bastante evidenciado na subordinação das ações do poder público às exigências dos organismos internacionais que coordenam esses megaeventos esportivos, a FIFA (Fédération Internationale de Football Association) e o COI (Comitê Olímpico Internacional). 

    5. Recomendações para o Conselho das Cidades

    Tendo em vista o exposto, destacam-se quatro recomendações:

    (i) a criação de uma instância no âmbito do governo federal para monitoramento das intervenções vinculadas à Copa do Mundo, com a participação do Conselho das Cidades; e a criação de um grupo de trabalho específico sobre o tema, no âmbito do Conselho das Cidades.

    (ii) a necessidade de criação de critérios para a liberação dos recursos federais, associados ao respeito ao Estatuto da Cidade e ao direito à moradia, em especial, e a necessidade dos projetos serem discutidos com as comunidades envolvidas e com a sociedade como um todo; e a necessidade de respeitarem o direito à moradia digna das famílias afetadas pelas intervenções.

    (iii) o monitoramento, pelo Conselho das Cidades, da aplicação, pelas cidades-sedes, dos instrumentos de captura da valorização fundiária previstos no Estatuto da Cidade e nos planos diretores, nas áreas que estão sendo objeto de intervenção. 

    (iv) a proposição de critérios para a aprovação dos projetos de mobilidade vinculados à Copa do Mundo, associados a integração dos modais – envolvendo ciclovias e calçadas – a acessibilidade em relação as tarifas, a acessibilidade dos deficientes físicos, e a priorização de investimentos em áreas ocupadas pelo população de baixa renda. Sugere-se que o Conselho das Cidades, através do Comitê Técnico de Mobilidade, e por meio da mobilização de pesquisadores e consultores - faça a análise de todos os projetos vinculados à mobilidade urbana nessas cidades. 

    (v) a análise dos impactos sociais gerados pelas intervenções já realizadas e medidas de reparação nos casos de violação do direito à moradia e do direito à cidade que forem identificados.

    (vi) a realização de um seminário nacional promovido pelo Conselho das Cidades, dedicado à discussão do projeto da Copa e das Olimpíadas e de seus impactos sociais, urbanos, econômicos e ambientais.