sábado, 28 de julho de 2012

'Achei que ia morrer', diz criança ferida durante desocupação em Cuiabá


Criança de 10 anos retorna para área depois de ter sido atingida por bala de borracha (Foto: Marcelo Ferraz/G1MT)Criança de 10 anos retorna para área depois de ter sido atingida por bala de borracha (Foto: Marcelo Ferraz/G1MT)
"Voltamos para construir o nosso lar". Essas foram as palavras de Samara Silva Soares, de 10 anos, ao retornar nesta quarta-feira (18) para uma área, em Cuiabá, de onde ela e sua família foram retiradas pela Polícia Militar no último dia 12. Durante o confronto, a menina foi atingida no rosto por uma bala de borracha disparada pelos policiais, no cumprimento do mandado judicial de reintegração de posse, no Bairro Parque Humaitá I.
Nesta quarta-feira, o Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) reformulou a ação da primeira instância e determinou o retorno de mais de 200 pessoas para o local. De acordo com a mãe da menina, Lécia Alves Soares, de 32 anos, no dia em que a filha foi baleada no rosto, as famílias estavam em desespero, pois, segundo ela, muitas casas e barracos foram destruídos durante a retirada das famílias.
O caso se tornou polêmico porque os moradores alegam que houve truculência por parte da Polícia Militar, que também foi criticada pela Defensoria Pública do Estado, autora na ação na Justiça. Durante o confronto, 15 pessoas ficaram feridas no local.
A menina que foi atingida pelo disparo revelou que ficou muito assustada na hora que a balala de borracha acertou seu rosto. “ Fiquei com medo de morrer. Mas agora, voltamos para construir o nosso lar”, declarou Samara.
Em entrevista ao G1, no momento em que retornava para a área, a moradora Lécia Alves disse estar emocionada pela Justiça ter reconhecido o direto deles voltarem para o bairro e também de poder reconstruir sua residência. “Espero que isso seja definitivo para que a gente possa morar aqui em paz. Tivemos uma luta muito difícil, ver nossas casas derrubadas e saber que não tínhamos para aonde ir, era muito triste”, relatou a moradora.
Mais de 200 pessoas retornam para área no Humaitá I após decisão do Tribunal de Justiça (Foto: Marcelo Ferraz/G1MT)Mais de 200 pessoas retornam para área no Humaitá I após decisão do Tribunal de Justiça (Foto: Marcelo Ferraz/G1MT)
Já Vágner dos Santos, de 43 anos, que tinha a residência localizada na entrada da área, foi um dos primeiros moradores a ver a própria casa sendo demolida no dia da desocupação. “As crianças, mulheres e idosos que acabaram apanhando no dia da ação, cabe a Justiça julgar e punir os autores dessa tragédia. No entanto, esperamos que esse dia triste possa servir de exemplo para que não ocorra isso em outros lugares”, relatou o morador.
O morador contou ainda que está aguardando um posicionamento das autoridades que estão envolvidas no processo de recondução dos moradores para área. “O que nós queremos não é um terreno, queremos apenas uma moradia para cuidarmos dos nossos filhos” informou Santos.
Contudo, o defensor público Air Praeiro ressaltou que os prejuízos causados para a comunidade foram "irreparáveis", com a medida de derrubar todas as moradias. Porém, segundo Praeiro, a Defensoria Pública vai propor ao governo do estado que faça uma medida compensatória.“Esperamos que o governo desaproprie a área, ofereça os títulos àqueles que realmente ocuparam e vamos pedir para a Universidade Federal que realize o planejamento urbanístico no local. Vamos, pedir para o município também, a implantação de pavimentação asfáltica, energia elétrica, rede de água potável, afim de que essas pessoas possam ter o direito à moradia”, salientou.

A Polícia Militar também estava no local acompanhando o retorno das famílias. De acordo com o novo comandante do 9° Batalhão da PM, Evandro Marcolino da Silva, a recondução dos familiares ocorreu de forma pacífica. O militar passou a comandar o 9° Batalhão depois que Rhaygino Sarly Rodrigues Setúbal foi afastado das funções por conta do confronto durante a reintegração de posse.

A Casa Civil informou ao G1 que está analisando a liminar expedida pelo Tribunal de Justiça e vai estudar o caso para dialogar com os moradores.